Tribuna de debates: 10 anos de ocupação do Haiti, nada a comemorar! Fora as tropas já!

Com esse texto do companheiro Leonardo, de Santa Catarina, abrimos a tribuna de debates, com contribuições dos militantes da JR para integrar a discussão do nosso 13° Encontro Nacional.. Todo militante que quiser, pode enviar suas contribuições para discussão no Encontro.

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No ano de 2014 a ocupação militar no Haiti, por meio da MINUSTAH (tropas da ONU) faz aniversário. São 10 anos pisando na soberania do povo haitiano.  Roubos, casos de estupro, assassinato, invasões da universidade e mais de 8.559 pessoas mortas e 699.000 infectadas desde 2010 pelo cólera trazida pelas tropas do Nepal,  são alguns dos problemas na conta das pretensas tropas de “paz” da ONU, lideradas militarmente pelo contingente brasileiro e a mando do imperialismo dos EUA.

Aniversário de 10 anos. Nada a comemorar.

Com as mobilizações do povo haitiano exigindo a saida das tropas e o recente anúncio do presidente do Uruguai, Pepe Mujica, de que não existe mais interesse em manter tropas uruguaias, os motivos reais da ocupação voltam a ser postos em cheque. Representando seu povo, o Senador do Haiti, Moise Jean-Charles, viajou recentemente pela América Latina se dirigindo aos governos que insistem em manter as tropas para exigir o fim da ocupação.


Ainda assim, contra a soberania do povo haitiano, o imperialismo pretende assegurar seu poder pilhando ainda mais uma nação fragilizada pela miséria e falta de infraestrutura – já que a pouca que tinha, foi devastada pelo terremoto.
Agentes do capital internacional, como o ex-presidente norte-americano, Bill Clinton, não abrem mão da facilidade em multiplicar seus negócios, como as ONGs, para sugar a força de trabalho a um valor desumano, que muitas vezes não ultrapassa 1 dólar ao dia.

Do ponto de vista militar, no caso do Brasil, o interesse é de treinar as tropas para uma eventual atuação nas favelas brasileiras, como confirma em entrevista um general do exército, para o documentário Estamos Cansados – Haiti, disponível neste link: http://migre.me/in5Oj

Isso tudo, vale lembrar, no país mais pobre do continente. O cinismo é tanto que tentam passar a sensação de controle e tranquilidade enquanto as ruas exigem a retirada imediata das tropas.

O ex-presidente Lula, que goza de inegável identificação com os povos latinos, mas subordinado aos interesses desse mesmo imperialismo na ocupação militar, escreveu recentemente em seu artigo no New York Times, no dia 17/02, que a ONU teria enviado tropas “A pedido do governo haitiano, e com base em resolução do Conselho de Segurança”  Esqueceu-se de complementar que  o governo era do fantoche René Preval, colocado no posto depois da deposição de Jean-Bertrand Aristide, orquestrada pelo Imperialismo dos EUA.

Lula ainda teve a coragem de dizer que “As instituições democráticas voltaram a funcionar e estão se consolidando. Já em 2006, foram realizadas eleições gerais no Haiti, com a participação de todos os setores políticos e ideológicos interessados. Sem interferir na disputa eleitoral, a MINUSTAH garantiu a tranquilidade do pleito e que prevalecesse a vontade popular. O presidente eleito, René Préval, apesar de todas as dificuldades, cumpriu integralmente o seu mandato e, em 2011, transmitiu o cargo ao seu sucessor, Michel Martelly, também escolhido pela população.”

Mas a realidade é bem diferente. Nas tais eleições democráticas de 2010, apenas 17% da população participou. E não faltaram denúncias de fraude de vários “observadores” e da própria população. Em livro recentemente lançado, o diplomata brasileiro Ricardo Seitenfus, que era embaixador da OEA no Haiti e que foi demitido, denunciou o esquema da OEA nas eleições, explicando que a missão de recontagem realizada nas eleições eliminou do segundo turno o candidato Celéstin, invalidando 38.541 votos, para dar a vitória ao novo fantoche Martelly.

Lula também ignora o fato de que o Senado Haitiano já aprovou resolução exigindo a saída das tropas e que o respeito à democracia inclui o respeito à soberania de um povo, que deve decidir o seu próprio futuro.

A Juventude Revolução desde 2004 luta contra essa ocupação. Integramos a luta que exigia de Lula que não enviasse as tropas, para fazer o jogo do Imperialismo dos EUA, e continuamos lutando para que as tropas brasileiras sejam retiradas imediatamente! E não descansaremos enquanto isto não estiver feito.
Toda nossa solidariedade com o povo irmão do haiti, primeiro a conquistar o fim da escravidão no continente! Toda a nossa disposição para defender o direito de cada povo dispor do seu próprio futuro!

10 anos basta! Fora as tropas! Em defesa da soberania dos povos!

O prosseguimento desta luta, deve ser amplamente discutida nos núcleos da JR e no nosso 13° Encontro nacional, nos dias 1 a 4 de maio!

Leonardo Nurnberg, é militante da JR em Florianópolis – SC