Violência racista contra os jovens

Sem lugar para se divertir, a juventude é criminalizada*

Dezenas de jovens negros foram publicamente humilhados pela Polícia Militar, sob aplausos das pessoas que assistiam, detidos e postos sentados com a cabeça baixa, sem camisa, como nas rebeliões em presídios. Foram agredidos, inclusive menores de idade. A cena de violência aconteceu no final de novembro em um shopping center de Vitória (ES). Nenhum registro de qualquer crime foi feito, que pudesse “justificar” essa ação. O que ocorreu foi o pavor que a “invasão” de jovens negros e pobres gerou nos donos de lojas e consumidores, os quais convocaram para a PM.

Os jovens haviam entrado (e não invadido!) no shopping para se proteger da ação da própria PM que gerou tumulto em um baile funk, próximo ao shopping – desde aí começou a violência racista! A própria assessoria de comunicação do shopping descartou a ocorrência de um arrastão e afirmou que nenhuma loja foi roubada ou danificada. Mas o secretário de Segurança Pública do Estado, André Garcia, tenta explicar: “Havia um tumulto e algumas pessoas relataram furtos na praça de alimentação. A polícia agiu corretamente. A intenção era identificar quem invadiu o shopping”. Nesse momento não havia dúvida para a PM: vamos logo deter todo jovem com cara de funkeiro!

Movimentos de juventude negra do estado preparam um grande baile funk na porta do shopping, com o nome de “arrastão contra o racismo”, contra a criminalização do funk e dos jovens.

Em São Paulo, no início de dezembro, um baile improvisado no estacionamento de outro shopping reuniu cerca de 6.000 pessoas, e teria supostamente terminado em arrastão (o shopping desmente essa versão). Os organizadores explicam: no shopping é mais seguro que na rua, onde as batidas da PM são frequentes. E afinal, esses encontros em áreas abertas são uma das raras opções de diversão dos jovens da periferia.

Além disso, no shopping é possível encontrar uma estrutura como banheiros, coisa que o poder público não garante para os organizadores de bailes abertos. Na real, avança a política de criminalizar a diversão do jovem da periferia. A Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei que proíbe realização de bailes funks em espaços públicos.

O projeto (de dois vereadores que são PMs!) está  na mesa do prefeito Haddad (PT), que precisa vetar essa proibição! Está certo do Secretário de Cultura de Haddad, Juca Ferreira: “O funk tem muito a ver com o direito de dançar, com o direito de se reunir desses jovens. Proibir é um absurdo, principalmente para um poder público que não oferece muita coisa para as pessoas se divertirem.”

Aqui, a discussão não é sobre o funk como gênero musical. Trata-se, na verdade, do fato de que o poder público, ao mesmo tempo, não oferece espaços públicos de lazer, esporte, diversão e arte, e quer criminalizar os espaços construídos pela própria juventude periférica. Tudo isso, é claro, misturado com um evidente racismo contra o som dos negros e favelados.

Priscilla Chandretti, é militante da JR em Guarulhos-SP

* Artigo originalmente publicado  no Jornal O Trabalho no dia 13 de dezembro