No último domingo (22/07/2012) houve uma operação policial no bairro da Levada, periferia de Maceió, onde foram apreendidas cerca de 40 menores numa discoteca de reggae no horário de matinê.
Dentro do salão, a polícia encontrou uma lata vazia de cerveja e um pequeno frasco de loló, o que supostamente estava sendo consumido por alguns menores. Todos os menores e alguns maiores foram colocados em um ônibus para serem encaminhados a uma delegacia, onde o conselho tutelar tomaria as providencias.
A apreensão dos menores gerou um tumulto na porta da discoteca por parte dos pais que queriam levar seus filhos para casa sem precisar ir à delegacia. Houve bate boca entre a população e os policiais que em seguida agiram com truculência, empurrando, atirando balas de borracha e lançando bombas de efeito moral em pais e mães de família sem que houvesse necessidade para isso.
Revoltadas, as crianças e os adolescentes detidos dentro do ônibus, acionaram a alavanca de emergência, soltando uma janela para tentar sair do veículo, o que não ocorreu. A equipe da TV Pajuçara filmou parte do ocorrido e entrevistado um policial militar, esse fez essa lamentável declaração sobre o ocorrido com a janela do ônibus: “…O pessoal que estava embarcado são pequenos delinqüentes, certo? Que a sociedade protege, não só a sociedade como os poderes públicos, protegem pequenos infratores…”
Essa fala do policia é inaceitável, além de criminalizar, generaliza chamando todas as crianças e adolescentes detidos de infratores sem haver qualquer julgamento que comprove ou não a culpabilidade deles.
“Quem faz comercial contra a violência, é o mesmo que quer sangue pra ganhar audiência!” (Facção Central)
Um programa de tv sensacionalista de Maceió fez um grande alarde sobre o caso, inclusive aplaudindo a fala do policial que criminalizou os jovens pobres. Mas, eles não conseguem esconder o falso moralismo estampado na cara, maquiado de “imparcialidade de imprensa”.
Eles não fazem matéria, nem tão pouco farão esse alarde sobre jovens de classe média que se drogam adoidado em boates chiques e/ou traficam na parte nobre da orla marítima de Maceió ou sobre os “filhinhos de papai” que se enchem de álcool e saem dirigindo por aí ameaçando a vida de outras pessoas. Esses casos de atropelamento e assassinatos por motivos fúteis envolvendo jovens de menores da classe média e alta são imediatamente abafados pela nossa “imparcial imprensa!”
É muito fácil culpabilizar e criminalizar os pobres, em sua maioria negros que além de serem vitimas de mais de 400 anos de opressão, vivem sob total descaso por parte do estado que só intervêm nas periferias com repressão das mais variadas formas.
Falta de políticas públicas, esporte, diversão e lazer é a raiz do problema!
Obviamente é um problema esses jovens estarem desacompanhados dos pais na discoteca e houve falhas da direção da discoteca por deixar o horário estender uma hora além do previsto, além de não ter fiscalizado a entrada da bebidas alcoólicas e do loló no salão.
Mas, é preciso entender que a raiz do problema é a falta de opção de diversão, cultura, esporte e lazer na comunidade. Como centenas de outras, a Levada e a Vila Brejal, são comunidades castigadas pelo desemprego e pela ausência do poder público, pois inexiste saneamento básico, saúde, educação, cultura, bibliotecas, quadras de esporte e até mesmo uma praça!
Só o que se tem na comunidade é base comunitária da PM, fazendo a ocupação permanente do bairro, e que não vai resolver os problemas básicos da população.
Se o estado não garante diversão e lazer para os jovens, eles se divertem com o que tem. E o que temos são dezenas de bares abertos, bocas de fumo e essas discotecas que muitas vezes são a única opção de lazer para milhares de jovens nas periferias de Alagoas. Elas vem ocupando o espaço vago deixado propositalmente pelo estado.
Portanto, para cobrar concretamente políticas publicas de educação, esporte, cultura e lazer para a juventude, está sendo preparada a 3ª Marcha da Juventude Contra as Drogas convocada por diversos movimentos e organizações de juventude do campo e da cidade, que no dia 19 de setembro vão dar seu recado e cobrar do poder público o direito de viver dignamente sem drogas e sem violência.
João, é militante da JR em Maceió -AL
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