Justiça reconhece que Herzog morreu por “maus-tratos” na ditadura

Em 25 de outubro de 1975, na ditadura militar, agentes do Exército torturaram e assassinaram o jornalista Vladimir Herzog, e montaram uma farsa para fazer passar a versão de que ele havia se suicidado. A falsidade dessa alegação ficou evidente desde as próprias fotos que mostravam o jornalista enforcado nas dependências do DOI-Codi de São Paulo (o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, subordinado ao Exército, um dos mais cruéis órgãos de repressão).

Nesta segunda-feira (24), o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou, enfim, a retificação do atestado de óbito do jornalista para que o documento afirme que a morte dele “decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (DOI-Codi)”.

Este foi o primeiro resultado prático da Comissão Nacional da Verdade, a qual solicitou a retificação à Justiça a pedido da viúva Clarice Herzog. E pode ser um ponto de apoio para que outros assassinatos que foram falsificados por agentes do Estado sejam minimamente reconhecidos.

Mas é preciso avançar para punir todos aqueles que tiveram envolvimento com a tortura de Herzog e com a mentira montada em torno de sua morte. Assim como é preciso punir todos os assassinos, torturadores, sequestradores, financiadores dos crimes cometidos sob a tutela da ditadura.

Quem foi Vladimir Herzog

Segundo a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Vlado nasceu na Croácia, antiga Iugoslávia, era ligado ao Partido Comunista Brasileiro e diretor de jornalismo da TV Cultura. Foi convocado e compareceu voluntariamente ao DOI-Codi. No mesmo dia, por volta de 15 horas, teria sido encontrado morto por seus carcereiros e algozes, enforcado com o cinto do macacão de presidiário, com os pés apoiados no chão, em suspensão incompleta.

Uma nota oficial do Exército, emitida logo após a morte afirmou que o próprio Herzog havia dado fim a sua vida. O legista Harry Shibata assinou um laudo que confirmava a versão.

De acordo com a Secretaria, “seus companheiros de prisão foram unânimes em declarar que o macacão obrigatório para todos eles não possuía cinto. Essa farsa terminou de ser desmascarada quando se tornaram públicos os depoimentos de George Duque Estrada e Leandro Konder, jornalistas presos no mesmo local, que testemunharam ter ouvido os gritos de Herzog sendo torturado. Evidências inquestionáveis da tortura tinham sido identificadas pelo comitê funerário judaico, responsável pela preparação do corpo para o sepultamento.”

O episódio causou uma comoção nacional e virou um símbolo na luta contra a ditadura. Ao receberem a notícia da morte, jornalistas paralisaram muitas redações em São Paulo. Em 31 de outubro de 1975, 8.000 pessoas se reuniram na Praça da Sé, convocadas pelo Sindicato dos Jornalistas, em um ato ecumênico para lembrar a morte.

Priscilla Chandretti, é militante da JR em São Paulo

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