Publicamos abaixo entrevista feita em espanhol pelo jornal Informações Operárias com uma companheira da Associação de Estudantes Contra a Precariedade – Estudantes em Movimento (AECP-EeM) de Cádis. O relato da luta contra cortes de verba na universidade pública na Andeluzia, presente no nº16 do jornal, evidencia o caráter internacional dos ataques sofridos pela educação na Brasil, feitos pelo governo Bolsonaro, que é uma necessidade do sistema capitalista, levado a cabo pelos governos inimigos dos povos nos mais diversos países.
Informação Operária (IO): Qual é a reivindicação que vocês propõem contra este novo ataque do governo autônomo?
AECP-EeM: Efetivamente, trata-se de um ataque frontal à educação e à universidade pública por parte da Junta, de modo que nossa reivindicação imediata é de reverter o corte de 135 milhões, para que esse dinheiro seja devolvido às universidades. Entretanto, isso não é uma novidade, nem é, como a Junta tenta afirma, uma medida extraordinária para lutar contra a crise da Covid-19.
Isto é absolutamente falsom não passa de uma desculpa, pois a Junta tem, mais ou menos ha ano, um esboço de um novo Modelo de Financiamento das universidades públicas andaluzas – inspirado, certamente, em um rascunho do PSOE (partido socialista da Espanha) – com certas medidas semelhantes para seguir implementando o modelo neoliberal em nossas universidades, desejando sem recursos a estas para, uma vez que não sejam rentáveis, eliminá-las do mapa ou privatizá-las.
Aliás, a Junta já contemplava a liberação dos remanescentes das universidades, os fundos disponíveis de outros anos reservados para investimentos grandes com trabalhos que estavam até então congelados, para “compensar” a redução prática dos ingressos públicos das universidades com o novo modelo. Nos toca, não? Com este anúncio de liberação dos remanescentes, eles tentaram “suavizar” o anúncio do corte.
No entanto, a base do novo modelo de financiamento constitui a maneira como as universidades públicas andaluzas serão financiadas. O documento convida claramente ao que se pretende chamar de prestação de contas à “sociedade que os financia”, que só pode ser entendida como famílias por meio de taxas ou empresas privadas. Assim, o novo modelo atribui um papel “complementar” ao financiamento básico operacional (para que as universidades funcionem) e, além de, lhes tornar dependente da Regra de Gasto, de modo que transfere às universidades a responsabilidade de buscar financiamento privado ou subir as taxas. E, como se fosse pouco, o financiamento variável que atribui a Junta dependerá da rentabilidade da universidade, de forma que as menos rentáveis terão menos recursos, fazendo com que a segregação entre estas aumente.
Como consequência de tudo isto, nós observamos como avança o modelo neoliberal de uma universidade submetida aos interesses privados, que são os que decidirão, além disso, o que se estuda e o que se investiga para que seja rentável, da qual as camadas populares têm cada vez mais dificuldade no acesso.
Portanto, nossa oposição, desde Estudantes em Movimento, no corte de 135 milhões implica nossa reivindicação de que não se aprove este novo modelo de financiamento. Em seu lugar apostamos, tal como defendemos em nossa Proposta para um Modelo Educativo Popular, no aumento e na blindagem do 100% de financiamento público para as universidades, dentro do 7% do PIB para Educação e a aquisição de um sistema de bolsas-salário para poder ter uma universidade gratuita a serviço da sociedade e não das empresas privadas, na qual todo mundo tem o direito de estudar, independentemente de sua situação econômica.
IO – Quais passos vocês têm dado ou pensado em dar? Estão organizados com outros coletivos ou associações estudantis que propõem algo similar?
AECP-EeM: A nível estatal nossa associação está organizada com muitos sindicatos estudantis do país, através da rede de Estudantes em Movimento, da qual fazemos parte. De fato, das análises sobre o novo modelo de financiamento discutimos com os sindicatos de base de Estudantes em Movimento de outras cidades andaluzas. Desta forma, temos uma sólida coordenação a nível andaluz que nos permite trabalhar este conflito.
A nível externo, nós estamos em contato com os sindicatos majoritários como as Comissões Operárias e UGT, que foi quem convocou, na parte dos trabalhadores universitários, a primeira concentração no mês de junho. Ademais, a nível estatal também realizamos propostas e estamos atualmente articulados em um projeto com a Frente dos Estudantes.
No futuro que nos faz tocar, por um lado, a construção de uma frente comum que possa mobilizar a sociedade andaluza em torno desta problemática, como já mencionamos e, por outro lado, o trabalho de uma formação e de uma difusão da temática estudantil para que todo mundo saiba no que consiste exatamente este modelo mercantil que querem implementar e aprofundar com ele.
IO – Quer acrescentar algo?
AECP-EeM: Eu gostaria de fazer um chamado para toda sociedade participar na defesa de uma universidade pública que é nossa e não daqueles que lhe querem tirar o máximo de lucro possível, especialmente da comunidade educadora e dos alunos, porque nossa associação é aberta e devemos aproveitar as ferramentas que nós temos para defender nossos direitos. Faz falta mais envolvimento e perseverança nesta luta e mais diante da crise que o coronavírus tem provocado e os golpes aos serviços públicos que estão por chegar. Na AECP irão nos encontrar sempre lutando pela educação e pelos serviços públicos.