Em entrevista, diretor da UBES fala sobre Reforma do ensino médio e situação das escolas públicas

O presidente do grêmio estudantil Criação de Ação Educacional, do Centro Educacional Edgard Santos, em Salvador, Gabriel Matheus, realizou uma entrevista com Victor Caíque, diretor da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) na oportunidade que esteve em Brasília na V Plenária da campanha da Constituinte do Sistema Político.

Confira aqui a entrevista completa:

Gabriel: Explica um pouco qual o papel da UBES na luta dos estudantes e nos conta também um pouco da sua trajetória política até aqui.

Victor: Bom, a UBES serve como nossa principal ferramenta de representação a nível nacional. Porém, a maioria da sua direção por muitas vezes se põe contra os interesses reais dos estudantes que a constroi, se colocando ao lado do Governo, por isso acredito que os estudantes por serem o principal “combustível” da entidade, precisam pressionar para que ela aja de forma diferente e seja mais aguerrida se opondo àquilo que venha prejudicar os estudantes e a Educação Pública. Apesar de no momento ela não agir da forma que deveria, estando recuada, eu ainda entendo que ela é a entidade que representa os estudantes secundaristas e por isso a construo e a defendo.

Estivemos em lutas históricas e quero continuar construindo e combatendo para que ela se torne cada vez mais aguerrida. E bem, minha trajetória não é lá essas coisas, só milito há três anos e dois meses, mas nesse tempo presidi a UMES-Gama e o grêmio estudantil do Centro de Ensino Médio 03 do Gama. O que mais me orgulho não é presidir entidades estudantis, mas o que consegui acompanhar e ajudar a construir: manifestações, grêmios estudantis e muitas lutas! Foi através dessas lutas que eu pude ver muita mudança acontecer nos colégios do Gama, e ainda hoje considero que é o principal.

Gabriel: Qual a situação das escolas públicas brasileiras e como os secundaristas podem melhorar essa realidade?

Victor: Bem eu considero que através de muitas lutas houve avanços para a Educação nesses últimos anos, porém vejo que nossas escolas continuam sucateadas e nossos professores desvalorizados. Para mim é algo inadmissível! Eu acredito que o grêmio do Edgard Santos terá muitas tarefas pela frente, assim como temos em todo o Brasil, porque a Educação Pública a cada dia sofre mais ataques e é preciso lutarmos para avançar mais e não retroceder!

Em uma pesquisa realizada ano passado por pesquisadores da UFSC e UnB, os dados são alarmantes, somente 0,6% das escolas possuem estrutura próxima do ideal (laboratórios, quadras poliesportivas estruturadas, sala de vídeo, acessibilidade para estudantes com necessidades especiais, etc.) E para mim só podemos avançar de verdade quando os estudantes estão unidos lutando junto ao grêmio, seja através de passeatas, abaixo-assinados e formas de manifestações que coloquem as demandas dos estudantes no centro.

Gabriel: Qual a principal luta que você acredita que os secundaristas devem travar no próximo período?

Victor: Para mim estamos em um período importantíssimo no país, afinal a campanha da Constituinte pela Reforma política toma cada vez mais fôlego no país sendo a campanha central para a juventude e os trabalhadores que deixaram claro sua insatisfação com a política nas manifestações em junho/julho do ano passado. Além disso, acho que temos outra grande luta pela frente: contra a Reformulação do Ensino Médio (PL 6840/13); afinal, o projeto só piora a situação do ensino público do país. O projeto prevê por exemplo que um professor não lecionaria somente uma disciplina, mas uma área de conhecimento, semelhante a divisão que ocorre no ENEM (linguagens, códigos e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias,etc) e que para poder dar aula sobre essas outras áreas ele passaria por um curso de seis meses, além disso prevê que o terceiro ano seja voltado para a Educação Técnica. Esse é somente um dos problemas, mas o que ocorre é que querem diminuir o número de professores, reduzindo o gasto do Estado com estes profissionais, e fortalecer a lógica de que Universidade é coisa para “filhinho de papai”, afinal quem continuará nas fábricas são os filhos dos trabalhadores, já que a Educação Pública será voltada para fortalecer o tecnicismo, ao invés de garantir o conhecimento ao estudante.
E creio que tanto a luta pela Constituinte quanto a luta contra a reformulação do Ensino Médio são centrais para o movimento estudantil no próximo período.