O grupamento de Rondas Especiais (Rondesp) da Polícia Militar da Bahia na madrugada de 06.02 promoveu mais uma chacina à juventude. Ao menos 15 jovens entre 15 e 27 anos de idade foram assassinados pela PM!
A alegação da polícia é sempre a mesma: “fomos recebidos a balas.”. No bairro de Cosme de Farias, 03 jovens foram assassinados pela PM. O caso mais grave aconteceu na região de Vila Moisés, no bairro do Cabula, em Salvador. Foram 12 mortos e 04 feridos, entre 15 e 27 anos!
Desta vez o pretexto era que os “bandidos” estavam prontos para assaltar um banco. Segundo a PM, foram encontrados vários quilos de droga, além de um grande arsenal bélico para assaltar o banco. O Secretário de Segurança Pública, Mauricio Teles, afirmou que “os nossos policiais, em uma situação de enfrentamento, não vão ficar esperando alguma coisa acontecer contra eles e contra a sociedade.”, ou seja, se é suspeito, mata antes pra garantir a “segurança da sociedade”?
A despeito da declaração do secretário, a população presente no local contesta a versão da PM. Segundo os moradores, a polícia executou os suspeitos mesmo após eles se renderem. Um morador afirmou: “Foram muitos, muitos tiros de uma só vez nos rapazes que estavam desarmados!”. E continua: “Todos estavam com as mãos para cima, outros com a mão na cabeça. Foi quando um PM obrigou um dos rapazes a sair com eles. Antes, o garoto foi quebrado na porrada”.
A Anistia Internacional vê indícios de execução sumária na ação da PM. A população local está em estado de pânico e com medo de falar e sofrer retaliação da polícia.
“Como uma artilheiro na hora do gol”
Tão absurda quanto a ação da PM, foi a declaração do governador recém eleito, Rui Costa (PT). Ele afirmou: “A PM que eu imagino e quero construir no estado é uma PM que respeite o cidadão e atue sempre dentro da legalidade. A polícia, assim como manda a Constituição e a lei, tem que definir a cada momento e nem sempre é fácil fazer isso. “É como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, pra fazer o gol”
É um ato de respeito a PM entrar em um local, espancar e matar 12 jovens “suspeitos”? Que comparação absurda é essa com o jogador de futebol? Quer dizer que a decisão de matar é tão simples quanto a decisão de chutar a bola pra dentro do gol?
O governador Rui Costa foi eleito, em primeiro turno, contra a possibilidade de retorno dos terríveis tempos do PFL/DEM, do falecido ACM (avô do atual prefeito da cidade, ACM Neto). O PT de Rui Costa está no terceiro mandato a frente do governo do Estado, mas parece que o governo ainda não entendeu (ou não quis dar ouvidos) o recado que lhe foi dado nas urnas em 05 de outubro!
Rui Costa foi eleito, entre outras coisas, pra dar fim ao genocídio da juventude negra! No entanto, a Bahia tem se destacado como um dos estados mais violentos do Brasil. Os índices de criminalidade em Salvador, em 2012, segundo o Mapa da Violência de 2014, foram de 138,5 homicídios para cada 100 mil habitantes. Em 2012, os autos de resistência (licença da polícia para matar) da PM na Bahia computaram, em média, uma morte por dia!
Apesar disso, o governador cortou o orçamento da educação em R$264 milhões de reais e o da saúde em R$32 milhões. Ou seja, quanto menos serviços públicos, quanto menos direitos, mais jovens são lançados às drogas, ao tráfico, à criminalidade e sujeitos à ação repressiva e ditatorial da PM!
“Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar!”
Como se vê, a situação da violência na Bahia tende a piorar. A PM é o braço armado do Estado para destruir a juventude. O primeiro passo para mudar essa situação é exigir do governador Rui Costa que revogue os cortes no orçamento da educação! Queremos o direito de estudar!
A Polícia Militar é um dos entulhos deixados pela Ditadura, na Constituição meia boca de 1988, a partir do Decreto-lei 667/69, que transforma as policias estaduais na força auxiliar do Exército. Precisamos varrer esses entulhos e, entre eles, a PM, usada para reprimir manifestações e matar a juventude negra e pobre da periferia. Apenas nos casos citados aqui, foram 15 jovens brutalmente assassinados! O segundo passo portanto é lutar pela aprovação da PEC 51, que desmilitariza a PM, e também pela aprovação do PL 4471, dar fim aos autos de resistência!
Para isso, não podemos descolar essas reivindicações da necessidade de um Plebiscito Oficial da Constituinte do Sistema Político, que destrave as nossas reivindicações no Congresso Nacional! Afinal, com esse Congresso não dá!
Rodrigo Lantyer, militante da JR em Salvador e membro do Conselho Nacional da JR.