Sofrendo as consequências do desdém com que os governantes encaram as demandas da juventude, os estudantes secundaristas da cidade de Araucária, no Paraná organizaram manifestações, atos e abaixo assinados para exigir o o atendimento de suas reivindicações. Para falar sobre o movimento entrevistamos um dos líderes das manifestações, o estudante Alisson Pimentel.
Juventude Revolução: No último dia 08/09 os estudantes e a comunidade do Fazenda Velha fizeram um ato na Câmara Municipal para a entrega de um abaixo-assinado. Do que se trata?
Alisson: Se trata de uma série de reivindicações, questões simples mas que não são garantidas a população, como iluminação de qualidade, monitoramento da guarda municipal, patrulha escolar efetiva, adequação de horário de ônibus (considerando os horários de entrada e saída dos colégios da região), que já estava ruim, e que no sábado dia 06/09, piorou depois de algumas mudanças que nosso sistema de transporte integrado fez. Mudanças feita para cortar gastos, e não exatamente para atender as demandas da população. Também reivindicamos neste documento, a necessidade de passarelas nas rodovias que cortam a cidade. Nossa cidade tem mais de 130 mil habitantes, e não tem nenhuma forma segura de pedestres e ciclistas atravessarem as rodovias. Sabemos que muitas destas reivindicações, não podem ser executadas por um vereador. Mas também sabemos que o papel do vereador, dentro deste sistema, é representar os interesses da população da cidade, e garantir que o dever dos executivos seja cumprido. Consideramos, neste ato, aquilo que estava ao nosso alcance, pois representamos um Colégio Estadual, porém o Palácio do Iguaçu, sede do Governo Estadual, fica na capital, e é muito difícil para alunos de Araucária, que é uma cidade da região metropolitana, se deslocarem até Curitiba. O que estava em nosso alcance, é ir até os vereadores, na expectativa de incomodá-los, e de que sucessivamente eles incomodem também o governo do estado. A Gestão Beto Richa (PSDB), em sua última campanha, foi até nossa cidade e garantiu que o nosso colégio seria o primeiro a receber uma reforma, seguida de uma ampliação. Ficaram 4 anos no poder, e nada. Absolutamente nada foi feito. Araucária, e muitos outros municípios do Paraná, sofrem de uma extrema decadência física, sem acesso a informática, sem acesso a espaços adequados para educação física, sem espaço para alocar mais alunos, e os diretores da região quase sempre tem que se virar sozinhos. A educação do Paraná está falida, e não é só problemas com alunos, ano passado nossos professores entraram em greve por que não estavam recebendo seu pagamento. Está um completo CAOS.
JR: Qual o papel do Grêmio Estudantil do Colégio Fazenda Velha nessa mobilização?
Alisson: A iniciativa partiu do Grêmio, hoje contamos com uma equipe forte e hábil. O que foi muito difícil de conseguir, no início notamos que a maior parte dos alunos estavam descrentes em relação a qualquer tipo de representatividade. E um dos nossos primeiros esforços, foi tentar mudar este pensamento. Através de muitas reuniões, discussões, conversas com o corpo pedagógico e com os diretores nós conseguimos fazer com que pelo menos boa parte dos alunos acreditassem no potencial do grêmio. E isso tornou possível que no último dia 08 lotássemos a câmara municipal, uma visita vitoriosa onde conseguimos o direito a tribuna e destaque regional, tanto que na mesma semana tivemos uma reunião com todas as lideranças da cidade, pautando nossas reivindicações que beneficiariam não só as regiões próximas ao colégio, mas toda a cidade. O Colégio Estadual fazenda velha, hoje tem o privilégio de ter o grêmio mais ativo da cidade.
JR: Você acha que os estudantes de outras escolas também devem se mobilizar e organizar grêmios estudantis? Por quê?
Alisson: O Grêmio estudantil é o primeiro contato de um estudante com a política. É fundamental que os estudantes se mobilizem para organizar chapas, efetuar eleições e assumir a responsabilidade de representar e defender os interesses de seus colegas. É visível que hoje, isso não é levado a sério, tanto pelas entidades educacionais, quanto pelas próprias organizações estudantis que deixaram de ocupar muitos espaços na política. Notamos no inicio da gestão, a dificuldade de se conseguir efetuar alguma mudança, pois sempre tinha algum obstáculo imposto pelos núcleos do estado, mas o esforço continua e tentamos constantemente superar estas dificuldades, claro que priorizando nosso desempenho escolar, que deve ser prioridade. Estas mobilizações para organização de grêmios deveria vir das entidades reconhecidas pelo estado como (UBES, UPES, etc) que supostamente deveriam representar os interesses dos estudantes, e da juventude de modo geral, mas infelizmente estas entidades estão ai aparentemente só para vender “carteirinhas de estudante”, por valores abusivos. É notório que este pessoal assumiu uma posição branca, e que os estudantes precisam de uma iniciativa revolucionária, que não sucumba a interesses econômicos.
JR: Na Semana da Pátria, vocês do Grêmio também participaram da votação do Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva do Sistema Político. Como você acha que a mudança do sistema político está ligada à luta da juventude e da comunidade do Fazenda Velha e outras?
Alisson: A juventude quer mudanças. É isso que as jornadas de junho de 2013 mostraram para todos os brasileiros, eu participei deste momento, e compartilho a insatisfação com o sistema atual que corrompe os líderes e faz com que as relações dos políticos com as pessoas, seja cada vez menos humana, e cada vez mais econômica. A grande maioria dos brasileiros não se beneficia das riquezas do país. Esta riqueza está dominada por poucos, e são estes poucos que tem comandado o nosso sistema político. O poder econômico esta esmagando a população, transmitindo a mensagem de que o Brasil é um país emergente, porém somos o 79º IDH do mundo, e a desigualdade prevalece não só na esfera social, mas também na política. Uma constituinte exclusiva do sistema político, é um passo que deve dar sequencia a muitos outros que vão tornar a vida dos nossos futuros adultos, mais justa.