PM de Alckmin (PSDB) ataca manifestação de estudantes paulistas que exigiam democracia nas universidades públicas do Estado.
Mais de 2000 estudantes e jovens se reuniram na tarde e inicio da noite desta terça 15/10, Dia do Professores, para realizar um ato político que unificou estudantes das universidades estaduais de São Paulo (USP, Unesp, Fatec e Unicamp) por uma pauta de reivindicações comum: o direito das comunidades acadêmicas terem democracia e autonomia.
A maior parte da grande imprensa, noticiou que eram apenas 300, usando como base as declarações da própria PM. Nada mais longe da realidade, uma manipulação para deslegitimar a luta dos estudantes.
A reivindicação concreta que está no centro da greve estudantil na USP também diz respeito às demais universidades. Trata-se do direito de realizar eleições paritárias, com todos os estudantes, professores e funcionários podendo eleger seus diretores e reitores, sem intervenção do governador do Estado. Hoje é o governador na prática quem escolhe os reitores, conforme seus interesses políticos, (através da chamada lista tríplice).
A manifestação foi convocada pelo Diretório Central dos Estudantes da USP, com outras entidades organizando, como a União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP). O objetivo desde o momento que foi convocado, era levar a manifestação ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Mas no meio do caminho estava a Polícia Militar do governador Geraldo Alckmin (PSDB) que bloqueou o caminho e desencadeou um massacre sobre os estudantes presentes, e ainda prendeu 57 pessoas numa ação absolutamente covarde! Alguns foram presos, enquanto socorriam feridos, como relata um dos detidos: “Fui levado detido quando prestava socorro, e fui levado sem motivo” (O Estado de São Paulo, 18/10).
Ninguém mais tem dúvida sobre o papel da Polícia Militar de reprimir e tentar calar os movimentos sindicais, populares e estudantis. Para isso, usa toda a violência que pode.
A PM lançou bombas de gás-lacrimogênio, encurralando os estudantes, obrigou-os a entrar na loja de móveis para se proteger. Essa violência tinha um objetivo político: impedir que a manifestação chegasse ao palácio dos bandeirantes e dessa maneira pressionasse o governador para abrir negociações com as entidades representativas dos estudantes.
A greve na USP continua, os estudantes das demais universidades estaduais continuam mobilizados. É preciso dar continuidade a essa luta, com um calendário de mobilizações.
A Polícia Militar não foi o único obstáculo no caminho do palácio dos bandeirantes
Ação da Polícia Militar foi o principal obstáculo para impedir os estudantes de levar as exigências ao governador. Mas é necessário dizer que não foi o único.
Também houve o papel desenvolvido pelos black blocks. Por mais legítima que seja a revolta de muitos jovens que usam dessa tática, nem por isso é legítimo o verdadeiro desserviço que eles prestam, mesmo que não seja a intenção da maioria destes jovens, e é preciso entender o porquê.
A PM tinha definido desde o inicio o objetivo de impedir que os manifestantes chegassem ao palácio dos bandeirantes, e esperava a melhor oportunidade para atacar. E a ação individualista errada dos black blocks serviu como a desculpa para a repressão generalizada da manifestação. Foram, na prática, instrumentalizados pela repressão. Aceitaram a provocação policial deram a desculpa necessária para a PM e os meios de comunicação manipularem contra a manifestação, sua direção e seus objetivos – para não dizer que vários mascarados poderiam ser PMs infiltrados incitando a violência.
Este não e único problema, como também a tentativa de usar a massa de estudantes mobilizados por suas reivindicações para legitimar suas ações. Pois, desde o início do ato, os mascarados queriam ir à frente das faixas das reivindicações que os estudantes exigiam do governador: eleições diretas, estatuinte, democracia. As reivindicações em torno das quais aqueles dois mil estudantes haviam se unido!
A recusa de se integrar ao ato, a escolha por encobrir as reivindicações e desrespeitar a direção da manifestação, que foi decidida de forma coletiva pelos estudantes nas suas assembleias, mostra uma forma autoritária de impor sua vontade individual e minoritária sobre a luta coletiva dos estudantes, e na prática sabotar a manifestação coletiva.
E isso foi comprovado quando, após várias tentativas de negociação das entidades estudantis para que eles se integrassem ao ato, atrás da faixa, respeitando as reivindicações e o coletivo, os mascarados passaram a atacar os próprios manifestantes verbalmente e fisicamente, tentando arrancar faixas e bandeiras.
Com o impasse causado pelos mascarados black blocs, a manifestação parou diversas vezes. No caminho, utilizavam seus métodos de ataques às vidraças de lojas e “símbolos do capitalismo”, numa atitude que nada tem a ver com a necessidade de mobilização para a conquista das reivindicações do movimento.
Repetimos. A revolta de jovens que querem quebrar vidraças e símbolos do capitalismo pode ser justa. Assim como a revolta contra a policia. Mas na prática o apoio a essa dita tática black bloc, hoje está se tornando um verdadeiro obstáculo a luta coletiva. A ingênua impressão de que um pequeno número, com paus e pedras, podem resistir a repressão armada da policia, ou que quebrando lojas e bancos, vão despertar a massa pra luta, tem um resultado inverso, objetivamente desagregador e desorganizador.
Na hora que a policia reprimiu, não sobrou mascarado algum pra proteger qualquer manifestante. Mostrando que essa conversa de “tropa de choque do movimento” é na real conversa fiada. Foram igualmente dispersos pela Policia Militar. Aqueles que reagrupavam e tentavam demonstrar “valentia” indo em direção a policia abriam o caminho para mais reação da polícia militar. Os estudantes organizados com o movimento estudantil, por outro lado, buscavam reunir com seus conhecidos, companheiros, colegas e tentar proteger uns aos outros da repressão desproporcional da Polícia Militar.
A luta vai continuar, como a própria greve continua.
Coordenação da Juventude Revolução – São Paulo
Uma reflexão necessária para o movimento:
a que serve o individualismo dos mascarados “black blocs”?
Não é a primeira vez que fatos como os ocorridos na manifestação do dia 15/10 acontecem.
Eles exigem uma reflexão no seio do movimento estudantil, sindical e popular.
O movimento não pode se permitir ficar refém dos falsos “radicais” que agem por conta própria, de costas ao movimento coletivo, ao seus espaços de decisão e deliberação, sem prestar contas ao próprio movimento e sem levar em conta seu objetivos reivindicativos e políticos.
O movimento deve combater para que as decisões coletivas sejam respeitadas.
Não se trata de entregar para a policia ou criminalizar qualquer mascarado “black bloc” ou condenar todo ato de violência. A violência pode ser um instrumento legítimo de luta coletiva para se defender da violência da policial, dos ataques do Estado… Mas sua banalização como “modinha” de quebradores de vidraças e depredadores de ônibus tonaram-se na prática um instrumento de provocação contra o movimento coletivo.
Essa tática de mascarados “black blocs”, são um prato cheio para infiltrados da policia em meio aos rostos cobertos.
Não cabe ao movimento a colaboração com a Policia. Trata-se de impor-se a decisão e ação coletiva contra o individualismo. São os manifestantes quem devem fazer sua própria segurança coletivamente. Nenhum grupo à parte, com objetivos políticos distintos ou mesmo sem qualquer objetivo, deve ter essa responsabilidade. É necessário levar às assembleias, comitês de greve, e entidades a formação de Comissões de Organização e Segurança das manifestações, sem máscaras, com direção coletiva. As decisões devem ser submetidas ao coletivo e não às vontades individuais. Em certas ocasiões, pode ser necessário e possível enfrentar a polícia. Mas essa decisão deve ser tomada coletivamente, levando em consideração a correlação de forças e os objetivos políticos da manifestação.