Impressões sobre o Seminário da JPT

Uma boa iniciativa, mas com resultados nem tanto

A Juventude do PT (JPT) realizou o Seminário “Organizar e Resistir” logo após o resultado eleitoral. Uma iniciativa positiva que deveria ajudar a JPT ser ponto de apoio para milhares de jovens que se engajaram na campanha do PT e, agora, busca seguir na batalha contra o governo que pretende atacar seus direitos e a perspectiva de futuro.

Quem tem medo de fazer balanço?

A Carta à juventude brasileira, publicada após o Seminário, arrisca um balanço sobre a derrota eleitoral quando diz “É preciso reconhecer que os nossos governos, […] tiveram dificuldades de responder a algumas das demandas concretas do nosso povo e pouco contribuíram para avançara consciência de classe dos trabalhadores e das trabalhadoras”. Apesar de justa, é incompleta, pois não chega à raiz dos problemas, cujo debate é fundamental para ajudar os militantes do PT, em particular os jovens, a enfrentar a situação.

A verdadeira dificuldade foi porque o PT no governo se adaptou, buscando conciliar com instituições falidas, tanto no plano político com alianças erradas, como na economia pagando juros a banqueiro desde Lula. Assim, fez falta as reformas estruturais que permitiriam mudar as instituições como o judiciário e o Congresso no qual deveria ter representatividade do povo e com isso se adotar medidas como desmilitarizar PM, fim do genocídio da juventude negra, ampliar ensino gratuito e de qualidade, reforma agrária, etc. Foram essas contradições que fragilizaram nossa base social e, fizeram muitos jovens não votarem 13.

Não desviar o rumo

O que será daqui para frente vai depender de uma série de elementos, mas sem dúvida terá grande peso aquilo que fará o PT. Por isso que é preciso fazer um verdadeiro balanço para armar a militância. Do contrário, aumenta as possibilidades de desviarmos do caminho ou cairmos em armadilhas. É o caso dos defensores das lutas identitárias, como no caso da opressão da mulher, mas não apenas. numa sociedade de classes. Vimos o que deu o “Ele não”, por exemplo. Bolsonaro subiu  nas pesquisas, enquanto Haddad caiu. Não cair na armadilha do identitarismo não significa abandonar a luta pelos direitos democráticos, significa defende-los com o conjunto da classe trabalhadora, sem segmentar “identidades”, por fora da exploração de classe.

É verdade que o PT tem que ampliar a filiação de jovens e formar novos quadros dirigentes, afinal estes que seguirão. Mas, isso não significa criar mecanismos estéreis que promovem disputas por cargos. Quais problemas foram resolvidos após anos de cotas geracionais? A crise agravou, porque a questão é a política do partido que precisa mudar, como sinalizou o 6º Congresso.

Há também quem acredite que precisamos de uma “nova política” para substituir as formas de organização acumuladas pela história da luta de classes para nos reconectar com a base. Daí tenta se reinventar com velhas fórmulas do tipo assistencialismo da igreja ou ONGs com sopões, desresponsabilizando o estado das políticas sociais.

Autonomia da JPT

A JPT deveria tirar as lições dos erros da derrota e retomar aquilo que fez o partido se enraizar no povo oprimido. Não precisa pedir autorização da direção para fazer o certo.

Voltar ao trabalho de base no Movimento Estudantil secundarista, universitário e da pós para construir e fortalecer entidades e, organizar a luta por verbas, merendas, contra militarização, enfrentar a Reforma do Ensino Médio, defender assistência estudantil, Fies, bolsas de pesquisa, etc. Voltar às periferias e comunidades para resistir contra o genocídio da juventude negra, fortalecer a luta pela desmilitarização da PM, defender serviços públicos de qualidade. Ser protagonista incansável na agitação do Lula livre em bairros, praças, locais de estudo e trabalho.

As dificuldades existem, mas não são insuperáveis. Com essa disposição, sem pretender a dona da verdade, é que os militantes da Juventude Revolução do PT lutam, ombro a ombro, na JPT.

Sarah Lindalva

Publicado originalmente no Jornal O Trabalho 841

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