Liberdade e Luta: O que temos a aprender com a experiência de uma juventude que organizou milhares e ajudou a colocar abaixo um governo de generais?

Os núcleos da Juventude Revolução estão organizando cine debates com o Documentário “Libelu: Abaixo a ditadura!”, de Diógenes Muniz. O documentário conta a história da tendência estudantil Liberdade e Luta, impulsionada pelos trotskistas da Organização Socialista Internacionalista, a OSI – hoje, corrente O Trabalho, seção brasileira da IV Internacional. A Liberdade e Luta nasceu em 76, com a fusão de duas tendências numa formação de chapa para o DCE da Universidade de São Paulo. O documentário retrata o lugar que ocupou a Libelu na resistência contra a ditadura militar: no combate pela reconstrução de entidades estudantis e organização de passeatas, atraiu milhares de jovens e popularizou a palavra de ordem “Abaixo a ditadura”.

O documentário é de Diógenes Muniz, um jovem cineasta, e não de um militante da corrente O Trabalho. Por isso, a escolha das figuras no documentário podem não ter sido tão justas com a história da Libelu. A dosagem na participação de cada um dos entrevistados pode ter contribuído, em alguns momentos, para uma sensação de que a rebeldia, assim como o trotskismo, são coisas do passado. Algumas publicações raivosas na mídia – na época e hoje, após o lançamento do filme – tentam retratar a tendência como um agrupamento burguês e intelectualóide. A Libelu foi a primeira escola de muitos que, posteriormente, integraram o movimento sindical. Desenvolveu seu combate ao lado da classe trabalhadora. Mais que estabelecer importantes relações com o movimento dos trabalhadores, a Libelu fez parte de um movimento de massas em ascensão. Movimento esse que, com as grandes greves, ganhava cada vez mais a cara do movimento operário no final dos anos 70.

As famosas festas e o “espírito libertário” retratado por Muniz, nada tinham a ver com uma “juventude irresponsável”, pelo contrário, tornavam menos dura a responsabilidade de uma geração que enfrentava a perigosa tarefa de ajudar a organizar a luta contra os generais. Uma juventude ávida por produzir e consumir arte em estado tão livre quanto esse sistema não é capaz de nos garantir. “A Libelu tinha as palavras de ordem mais ousadas”, disse um dos entrevistados. Uma delas estava presente no famoso cartaz do gato azul que dizia “Pela libertação imediata dos 12 sindicalistas presos”. Os traços que inventaram o gato da chapa “Nem todos os gatos são pardos” também desenharam a ousadia da Libelu que se contrapôs à estética stalinista. Os desenhos de foice e martelo e punhos cerrados deram lugar a um simpático gato azul. Em um sistema que sufoca a juventude e um regime militar que a reprimia violentamente, no que dependesse da Libelu, a arte seria uma das primeiras a conquistar sua liberdade. Os cartazes criativos que expressavam o impulso jovem de querer ser diferente, também exprimiam a opinião subversiva sobre a arte, desamarrada da função “conscientizadora” e panfletária, na contramão do que predominava nas demais tendências do movimento estudantil.

A Juventude Revolução não é a “continuação” da Libelu. Também é diferente no programa. A Liberdade e Luta foi uma tendência estudantil. Nós queremos construir uma organização política de juventude, que seja autônoma e de massas e que possa ajudar a construir pontos de apoio para a luta dos mais variados setores da juventude. No entanto, os cine debates com o documentário Libelu poderão inspirar boas reflexões nos núcleos da JR sobre a juventude que é necessária a construção. Assim como aconteceu com a Libelu, pesa sobre a JR os desafios de ajudar a organizar a luta dos jovens contra um governo autoritário e lotado de militares. Entre as perguntas que podemos fazer, uma delas é como a Libelu, sob um duro regime militar e em condições ainda mais hostis para a construção das organizações da classe, conseguiu organizar milhares sem recorrer às discussões fáceis do “antifascismo”? Palavra de ordem que, à época e ainda hoje, abre mão das reivindicações da maioria oprimida do povo em nome da união contra um “mal comum”. A palavra-de-ordem do “antifascismo” abandona a independência de classe, uma vez que pressupõe a integração do programa da burguesia.

A juventude toma as ruas hoje, contra o governo genocida de Bolsonaro. Em meio à uma pandemia que coloca a nu a profunda crise do sistema capitalista, que é incapaz de defender a humanidade de um vírus, as pressões para a união nacional “pelo bem comum” também são grandes nos dias de hoje. No entanto, a juventude que tem sido expressiva nos últimos atos de rua, deixa claro em seus cartazes o seu interesse: “vacina”, “emprego”, “educação” e “Fora governo genocida”. Como a JR pode, a exemplo da Libelu, se conectar aos anseios dessa juventude e agrupar milhares pelo Brasil? Como a JR, com seu espírito jovem e criativo, poderá atrair milhares de indignados com esse governo e esse sistema? Assim como a Liberdade e Luta, a Juventude Revolução do PT tem a desafiadora tarefa de ajudar a organizar os jovens, que ao lado dos trabalhadores, precisarão colocar abaixo o governo Bolsonaro e seus generais.


Krismilitante da JRdoPT-SC

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