No dia 10 de julho de 2012, o Ministro da Defesa Celso Amorim recebeu uma comissão composta por Fignolé St Cyr (Secretário da Central Autônoma dos Trabalhadores Haiti), Markus Sokol (DN PT) Barbara Corrales (Comitê Defender Haiti é Defender a nós mesmos), Deputado Federal Fernando Ferro (PT-PE), Deputado Estadual Adriano Diogo (PT-SP), Alexandre Conceição (MST) e Marcius Siddartha (JR-IRJ).
Na reunião, em Brasília, Markus Sokol apresentou ao ministro a campanha pela retirada das tropas que organizou em novembro passado o Ato Continental com representantes de 7 países na Câmara Municipal de São Paulo, quando se convocou a Jornada Continental do último dia 1º de Junho. Em 10 países (em 20 cidades brasileiras, por exemplo), Atos e delegações dirigiram-se aos governos pedindo a retirada das tropas, inclusive originando esta audiência.
Da esquerda para a direita: Alexandre Conceição (MST), Fernando Ferro (deputado federal PT-PE), tradutor Vougle, Fignolé St. Cyr (secretário da CATH, Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti), Barbara Corrales (Comite “Defender o Haiti é defender a nós mesmos”), Celso Amorim (ministro da Defesa), Marcius Sidartha (Juventude Revolução/IRJ), Markus Sokol (membro DN- PT) e Adriano Diogo (deputado estadual PT-SP).
Sokol questionou a presença da Minustah que, 8 anos depois, não produziu nenhuma estabilização nem aliviou a miséria, gerando uma situação de sucessivas fraudes nas eleições presidenciais, sem que viesse a anunciada ajuda internacional, e perguntou: “o que estamos fazendo lá? Um ex-ministro (Jobim) disse que estávamos treinando para subir nos morros do Rio, não pode ser! As manifestações no Haiti continuam pedindo a restauração da soberania nacional e a retirada das tropas. Há mesmo um desgaste, como na recente invasão da Faculdade de Ciências Humanas (FASCH) por tropas brasileiras, sob protesto do próprio Reitor da universidade. Isso não pode ser coisa deste governo, é coisa própria de governos como de Alckmin e Serra”.
O deputado Ferro ressalvou que “há 8 anos entendia a presença das tropas por um determinado período, mas hoje, não encontro justificativa nos fatos para a permanência”.
O deputado Adriano comemorou a retirada do Exército do Morro do Alemão (RJ), enfatizando que “tropas não podem mediar conflitos sociais. Somos contra a idéia do exército intervir, difundida pela Escola das Américas (dos EUA). Temos de banir isto da nossa história”. Terminou perguntando ao ministro “qual o cronograma da retirada?”
Alexandre Conceição afirmou “a posição do MST é pela retirada das tropas. Mantemos uma Brigada no país há muitos anos, num projeto de cooperação com os movimentos camponeses, de troca de experiências, ao mesmo tempo que recebemos, no Brasil, delegações de haitianos para cursos de formação. Este deveria ser o tipo de cooperação do Brasil com o Haiti”.
Fignolé St. Cyr veio ao Brasil convidado pela CUT (que apóia a retirada das tropas, e cujos dirigentes nesse dia estavam em congresso em SP). Ele explicou que veio “pedir a solidariedade dos brasileiros para a reconstrução do Haiti, não só material, mas de sua soberania, que é incompatível com a presença das tropas, decidida pelas potencias ocidentais”. Considerou que “após 8 anos, as forças ditas de estabilização, são verdadeiras tropas de ocupação, que trouxeram ao país a epidemia do cólera e violam nossa soberania. O Brasil poderia ajudar dando o exemplo e retirando suas tropas. Estive na ONU no ano passado, mas não nos deram nenhuma perspectiva, nenhuma data. Mas é isso que o povo haitiano quer, o que organizações do movimento sindical e popular pedem: a retirada das tropas”.
O ministro Celso Amorim justificou o envio das tropas (“evitar o caos”), questionou que fossem instrumento “de colonialismo das potencias”, mas disse que hoje “nossa intenção é sair, só que isso tem de ser acordado com outros ministérios, e também com outros países, em particular da América do Sul, e a ONU, pois não podemos fazer nada de forma unilateral. A presença de tropas foi pedida pelo governo do Haiti, e o Conselho de Segurança da ONU é a única instancia que legitima neste tipo de intervenção. Penso que ela já se alongou mais que o desejado, o que pode ter gerado um ou outro conflito, mas todo incidente foi apurado. Temos de planejar uma retirada gradual e, repito, pautada pelo diálogo com nossos parceiros da Unasul cujos países têm tropas lá”.
O ministro reconheceu que “a reivindicação de reparação pelo cólera merece um exame pela ONU” e disse “não estar informado do caso da faculdade”.
“Podemos ter visões diferentes por isso valorizo o diálogo”, concluiu, “como cidadão já disse o que penso, temos de retirar as tropas. Agora, como ministro, digo retirar, sim, apurar sim, mas não uma retirada abrupta e desordenada, é sensato a retirada gradual; por mim deixava um batalhão e o resto de engenheiros e técnicos, mas a ONU não vê assim”.
O ministro recebeu de Bárbara Corrales um Dossiê com o relatório da Comissão Internacional de Investigação sobre os abusos e crimes cometidos pela Minustah, inclusive o dossiê da recente invasão da FASCH por tropas brasileiras.
Finalmente questionado sobre uma proposta de cronograma de retirada, o ministro concordou com uma nova audiência daqui a três meses, “antes ainda da discussão sobre a renovação do mandato das tropas na ONU em 15 outubro”.
Desde 2004 a Juventude Revolução-IRJ se engajou na luta contra o envio das tropas e depois pela sua retirada. Foram diversos abaixo-assinados, atos, panfletagens, debates e diversas atividades nos diversos núcleos nestes anos. Inclusive esta tem sido a principal campanha da JR-IRJ, com uma discussão priorizada nos últimos Encontros Nacionais. Depois de anos de campanha finalmente conseguimos ser recebidos pelo Ministro de Defesa, o que demonstra a força que a campanha pela retirada das tropas do Haiti tem ganhado nos últimos anos.
Com promessa de audiência em três meses, mas sem nenhuma garantira de retirada das tropas é preciso dar continuidade à campanha, discutindo nas entidades e organizações políticas o envio de moções para Dilma exigindo a retirada das tropas. Também se torna necessário exibir os dois filmes da campanha em escolas, universidades e sindicatos para fazer com que o povo brasileiro veja o que de fato estão fazendo os soldados brasileiros.
Marcius Siddartha, militante da JR-IRJ em Brasília