Depois do golpe consolidado pelo impeachment uma nova onda de manifestações, composta sobretudo por jovens, tem varrido o país em ritmo quase diário. Milhares vão às ruas gritar “FORA TEMER, nenhum direito a menos”. Essas manifestações enfrentam a crescente repressão policial e abrem uma nova situação, com possibilidades amplas de organização da juventude brasileira, que exigem reflexão, debate e ousadia da nossa parte.
O que se concretizou com a votação do impeachment não foi um simples “golpe parlamentar”, mas um processo que durou mais de um ano, comandado desde o poder judiciário, com o evidente apoio da grande mídia, com o objetivo de atender os interesses da burguesia subordinada ao capital internacional.
Repitamos então o que a cada dia fica mais evidente. Não se trata – nunca se tratou – de um golpe para simplesmente apear Dilma e o PT do poder. Se trata de um golpe que visa destruir as organizações construídas pelos trabalhadores (incluindo aí o PT) e atacar direitos e conquistas da classe trabalhadora e da juventude.
As medidas anunciadas pelo governo Temer são brutais. Corte de verbas para as universidades (chegou a anunciar 45%), congelamento dos gastos sociais (saúde, educação etc.) por 20 anos. Aumento da idade mínima para aposentadoria, flexibilização das leis trabalhistas, quebra do marco regulatório do pré sal e entrega para as multinacionais; privatizações do que resta do patrimônio público.
Essa é a necessidade do Imperialismo, de banqueiros e especuladores, dos donos das multinacionais para dar uma sobrevida ao sistema capitalista, sistema que enfrenta uma crise sem precedentes e que só pode continuar existindo por meio da superexploração e da guerra. A ofensiva brutal contra direitos dos trabalhadores, portanto, não é exclusividade brasileira, e, ao contrário, é uma ameaça em todo o mundo como se pode ver pelo que ocorre na França ou pela ofensiva imperialista na Venezuela.
A resistência ao golpe foi enorme até aqui. Desde março do ano passado estamos num ritmo incansável de mobilizações, e, no entanto, todo esse esforço não foi suficiente para deter o golpe.
Cabe alguma reflexão. A Juventude Revolução esteve ao lado de outras organizações na frente brasil popular, como a CUT, o MST a UNE etc., exigindo de Dilma a mudança da política econômica, o fim do ajuste fiscal, o fim dos cortes e retirada de direitos, porque considerávamos que essa era a melhor maneira de combater o golpe. O governo precisava atender o povo, reatar com a base social que elegeu Dilma.
E, no entanto, prevaleceu no governo do PT a política de adaptação as instituições da burguesia, de conciliação, de colaboração de classes. Até o fim houve quem apostasse na possibilidade de recomposição com estas instituições, em acordo com setores da burguesia etc.
O grau de apodrecimento das instituições, entretanto, é evidente. É com aval e articulação dessas instituições que se fez o golpe.
Diretas já, constituinte pra mudar!
É levando tudo isso em consideração que devemos debater qual a saída política pra situação. Antes do impeachment a proposta que chegou a ser abraçada pela própria Dilma de “antecipação das eleições” era mais uma tentativa – impossível por sinal – de recompor com essas instituições. Passado o impeachment, objetivamente, a proposta de diretas se torna uma exigência pelo “Fora Temer”. Mas exigir apenas as diretas é insuficiente, pois não basta mudar o presidente, manter o congresso golpista, as instituições golpistas, funcionando normalmente.
É fundamental retomarmos a luta por uma assembleia constituinte. Ou seja, precisamos de uma assembleia com representantes eleitos, sob novas regras, para fazer a reforma política, mudar as instituições, preservar direitos e conquistas e abrir caminho para mudanças que são urgentes no Brasil.
É preciso conjugar as duas coisas: Diretas já, Constituinte pra mudar! A partir de 1° de janeiro, se Temer cair a saída oficial institucional passa a ser a de eleições indiretas, realizadas pelo próprio congresso. Hipótese inaceitável! Mais uma razão para reforçarmos às diretas contra o congresso.
Quem convoca? Tanto no caso das “diretas”, quanto no caso da constituinte, quem tem prerrogativa institucional de convocação é o congresso. Então não resta dúvidas de que é uma questão muito difícil. Só uma enorme mobilização popular pode obrigar os golpistas do congresso a fazer algo contra os seus próprios interesses.
Por isso a tarefa que temos pela frente é enorme. O usurpador Temer tem pressa para atender quem financiou o golpe. Precisa mostrar serviço e avançar sobre os direitos, e no entanto, oscila, com medo de jogar lenha na fogueira das mobilizações populares.
É preciso então ampliar as mobilizações e a organização da juventude, buscando unir a luta dos estudantes à da classe trabalhadora, que prepara uma greve geral, convocando ainda para setembro uma paralisação no dia 22. A greve geral, seria, de fato uma forma de mobilização superior.
Isso não significa que a responsabilidade de conduzir a greve seja nossa, quer dizer, da juventude. Cabe a classe trabalhadora com seus sindicatos e organizações a construção da greve. Mas é nossa responsabilidade dar todo o apoio neste sentido e buscar unir a disposição de resistência que cresce na juventude com a capacidade de luta da classe operária.
Podemos fazer isso mobilizando nos dias de paralisação convocados pela CUT, organizando passeatas comuns, paralisação de escolas e faculdades onde for possível e outros tipos de mobilização.
Ampliar a mobilização também não significa participar de manifestações todos os dias da semana. É necessário concentrar esforços e principalmente dialogar com a juventude aonde ela está para explicar tudo que está em jogo. Isso significa organizar panfletagens e passagens em sala em escolas, faculdades, bairros etc.
É isso que tem buscado fazer os núcleos da JR em São Paulo por exemplo ou em Santa Catarina, com resultados muito positivos, organizando reuniões que partem da luta em defesa das reivindicações, relacionando-as com o golpe e organizando cada vez mais jovens para participar das manifestações, da maneira mais organizada possível para resistir a crescente repressão comandada pelo governo federal, que se apoia na ação brutal das PMs!
Isso significa colunas organizadas com faixas, agitação bem feita (palavras de ordem, músicas e paródias, bateria etc.), “serviço de ordem” (quer dizer, nossa própria segurança) para nos orientarmos diante da dispersão que a Polícia tenta causar e etc. E significa, principalmente, trabalho de massas.
As ações de quebra de vidraças de bancos e lojas e incêndio de lixeiras, utilizadas como “propaganda pela ação”, por autonomistas, black blocs e anarquistas, são inofensivas aos interesses capitalistas e nocivas à mobilização e organização da juventude.
A presença de black blocs nas manifestações não só é um prato cheio para a infiltração de agentes provocadores do Estado, como afasta das manifestações outros milhares de jovens. Transmite a ideia de que essa seria a via mais “revolucionária”, verdadeiramente combativa, que incomoda o Estado.
A realidade, entretanto, é que nenhuma vidraça quebrada incomoda verdadeiramente o Estado governado pelos golpistas. Esses só poderão ser derrotados com a resistência à ofensiva contra os nossos direitos. É uma tarefa para milhões de homens e mulheres, de jovens, em unidade com classe trabalhadora.
Insistimos: nossa tarefa é ajudar a organizar os jovens que despertam para luta e mobilizar cada vez mais jovens para as manifestações, discutindo com a juventude aonde ela está. Nos bairros, nas escolas, faculdades. É isso que deveriam estar fazendo as entidades estudantis (UNE, UBES etc.).
É pelo que combatemos. Lute conosco!
Conselho Nacional da Juventude Revolução