No ultimo final de semana, uma guerra se instaurou na Zona Oeste do Rio de Janeiro, na Cidade de Deus. O resultado parcial desta guerra até agora foi a morte brutal de 7 jovens. Os corpos foram encontrados no fim de uma operação do BOPE na comunidade, neste domingo (20) feriado do dia da consciência negra.
Os parentes das vítimas, falam em execução. Os 7 jovens tinham passagens pela polícia, mas não foram encontrados com nenhum tipo de armamento. A operação aconteceu um dia depois da queda de um helicóptero da PM, que causou a morte de 4 policiais. A suspeita seria de que o helicóptero teria caído após ser alvejado por tiros, mas na noite de domingo a perícia constatou que não há marcas de bala no helicóptero, e que provavelmente o acidente aconteceu por falha técnica. Independente da real causa do acidente, não se pode mais ”corrigir o erro” 7 vidas jovens se foram e não voltam mais.
Os corpos foram resgatados por moradores, já havia a suspeita de que os jovens estavam em uma mata na Cidade de Deus, mas os policias impediram o acesso ao local, depois da saída dos policiais as famílias juntos com outros moradores entraram na mata em busca dos jovens, os corpos foram encontrados e levados pelos pais para uma praça na CDD. Antes de encontrar seu filho uma mãe gritava: – “Vou procurar meu filho agora! Meu filho está dentro do mato, morto! O sangue é meu! Eu sou mãe”! O grito dessa mãe, não é o único já que a cada 23 minutos um jovem negro e assassinado no Brasil.
Os parentes afirmam que foi execução, todos os corpos estavam deitados de bruços, com marcas de tiro a queima roupa na nuca e parte de trás do corpo, o que mostra que não houve troca de tiro. Os corpos também tinham marcas de facadas e arranhões como se tivessem sido torturados.
Os jovens tinham entre 17 e 34 anos e eram em maioria negros, negros que viraram mais um número pra essa infeliz estatística na mão dessa polícia que mais mata e morre no mundo.
Em uma entrevista o pai de uma das vítimas diz : “Infelizmente, todo mundo diz ‘vagabundo’. Não é só vagabundo que mora na comunidade. Independente da vida que eles levavam, eles não mereciam morrer do jeito que eles morreram. O meu filho morreu com um tiro nas costas, então meu filho foi assassinado, independente de qualquer coisa”.
Esse foi o feriado da consciência negra numa favela do Rio de Janeiro e é extremante emblemático que este triste episódio tenha ocorrido no dia 20 de novembro. Mas esse não fui um episódio isolado, todos os dias sangue negro escorre pelo asfalto da Cidade Maravilhosa. É tão comum ao ponto de não render mais notícia nos jornais.
Há exatamente um ano neste mês de novembro 5 jovens, sem nenhuma passagem pela policia ou envolvimento com o tráfico, foram brutalmente assassinados pela PM com 111 tiros. Desta vez não existia nenhuma ”desculpa” o que o fez parecer mais hediondo. Já no episódio atual, ocorrido na Cidade de Deus, o possível envolvimento destes jovens com o crime parece ser uma justificativa aceitável para tamanha violência. A questão na verdade é outra: a polícia militar do Rio de Janeiro sobe o morro para matar a justificativa vem depois. A polícia que mais morre no mundo sente prazer em ser a que mais mata.
A desmilitarização da Polícia Militar é questão primordial para se tratar do genocídio Negro nas favelas do Rio de janeiro.
Lara, é militante da JR no estado do RJ