Queremos ter futuro. Queremos viver!

No início desta semana publicamos em nosso boletim nacional trechos do texto Queremos ter futuro. Queremos viver! Publicamos aqui o texto na integra:


João Pedro Matos, 14 anos, foi vítima de execução pela polícia em operação na cidade de São Gonçalo. 48 horas depois, na cidade vizinha, Rio de Janeiro, uma operação policial deixou um jovem de 18 anos baleado quando o mesmo saía de casa para comprar pipa. Se voltarmos nos anos, veremos que a prática é comum, tem endereço, cor da pele e idade. São jovens, assim como nós, que estão morrendo, perdendo o futuro, perdendo seus sonhos. Em sua maioria, são jovens negros que tem seu futuro interrompido pelo Estado, pelo tráfico e pela falta de perspectiva de futuro. 

Certa vez, MC Lelin disse em sua rima, que ao acordar e olhar a janela logo cedo, pôde por ela, ver o apocalipse. Este apocalipse é a violência diária, a falta de serviços públicos, a destruição dos direitos, o rebaixamento da qualidade de vida. Este apocalipse é o próprio sistema capitalista, incapaz de nos salvar e de apresentar uma saída para a crise sanitária que vivemos, que escancarou as desigualdades perversas que alimentam este sistema de exploração.

O coronavírus, assim como a Polícia, mata mais negros.

Assim como a Polícia, o Covid-19 é muito mais letal quando encontra à sua frente negros e pobres. Segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2019, do total dos mortos em decorrência de operação policial, 74,4% eram negros.  No Rio de Janeiro, por exemplo, negros contam com 23.5% de chances de serem mortos. Se for jovem, essa taxa salta para 147%. É sair de casa, sem saber se vai voltar. 

Já a Covid-19, doença que começou seu contágio no Brasil entre os setores sociais mais ricos do país, leva majoritariamente ao óbito moradores de bairros pobres e de regiões periféricas. Podemos ver de forma nítida que a desigualdade social se expressa nas mortes pelo Corona devido a destruição dos serviços públicos, pois quem mais precisa deles não têm acesso. Dados do boletim divulgado pelo Ministério da Saúde mostram que 54,8% dos mortos no país são negros, mesmo que o número de brancos internados sejam de 51.4%.  Essa é uma expressão do que foi relatado no documento da CNTSS – Confederação Nacional de Trabalhadores em Seguridade Social – que afirma que dos 55.101 leitos de UTI que existem no Brasil,  apenas 49.8%  estão no serviço público. Ou seja, três quartos da população só tem acesso a metade dos leitos do país, o resto está destinado à saúde privada.

A falta de perspectiva de futuro

Segundo a OIT – Organização Internacional do Trabalho – a juventude é a mais afetada pelo desemprego no mundo. No Brasil, em 2019, alguns estados chegaram a 40% dos jovens sem trabalho. Uma situação assustadora. Além do alto índice de desemprego, o governo Bolsonaro, junto com o Congresso de Maia, aprovou a MP 936 e 927, que são ajudas bem vindas aos patrões, mas para o povo é um ataque perverso. Com o coronavírus, isolamento social e a falta de perspectiva de futuro, o aumento de doenças psicológicas tem sido avassalador. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, de 2015 até 2018, os atendimentos no SUS relacionados ao tratamento de depressão tiveram crescimento de 52%.  Nos jovens de 15 a 29 anos, foi de 115%. Sobre a população negra, a falta de perspectiva de futuro traz números assustadores, pois o índice de suicídio entre jovens e adolescentes é maior sobre a juventude negra. 

É exatamente por isso que, para construirmos um futuro à nossa juventude, precisamos nos organizar! Este é o primeiro passo para juntos derrubarmos este governo que é triturador de futuro e encontrarmos uma saída para essa situação.

Jeffei – militante da Juventude revolução de Volta Redonda (RJ)

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