A falsa pretensão da Rio + 20 e a armadilha da cúpula dos povos*

Entre 13 e 23 de junho ocorre a conferencia da ONU sobre o chamado desenvolvimento sustentável. O evento, segundo a ONU, visa “assegurar um comprometimento político renovado para o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso feito até o momento e as lacunas que ainda existem na implantação dos resultados dos principais encontros sobre desenvolvimento sustentável”, e o emprego da “economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza”

Nela estarão reunidos chefes de Estados e funcionários dos governos, com o apoio de instituições internacionais como o Banco Mundial e o FMI, além de todo tipo de organizações da chamada “sociedade civil”, conceito que dilui as fronteiras de classe: ONGs, empresários, partidos, organizações sindicais, etc.

A ONU ocupa o Haiti, autoriza a política de guerra no Iraque e no Afeganistão, auxilia intervenções como na Líbia, os governos da Europa aplicam planos de austeridade ameaçando a vida de milhões e pretendem um “plano para o desenvolvimento sustentável e de erradicação da pobreza”! Quem pode acreditar?!

Em nome da “salvação do planeta”, a conferência busca comprometer as organizações dos trabalhadores e da juventude, num chamado à uma “governança”. A isso serve a forte divulgação de teorias alarmistas como a do aquecimento global.

Os trabalhadores e a juventude devem combater a pobreza justamente combatendo essas instituições, a serviço do imperialismo. No lugar da “governança” para “salvar o planeta” é a luta de classes, com a vitória dos trabalhadores e da juventude, que pode abrir uma saída positiva para a humanidade e “salvar o planeta”.

 “Economia verde”, créditos de carbono e o alarmismo

A dita “economia verde” utiliza o “mercado de carbono”, criado pelo protocolo de Kioto, que propunha metas de redução da emissão de carbono até 2012, renovado até 2020. Tal mercado permite que um país ou um grupo que detenha uma Área de Proteção Ambiental possa medir a quantidade de carbono não emitida ou retirada da atmosfera e vender a outros países para que eles possam emitir mais carbono.

Quem lucra com isso? Para os 18 cientistas brasileiros que enviaram carta a Dilma questionando com argumentos científicos a transformação do gás carbônico em vilão e a própria teoria do aquecimento global e todo seu alarmismo, “Os principais beneficiários de tais medidas têm sido os fornecedores de equipamentos e serviços de Captura e sequestro de Carbono (CCS) e os participantes dos intrinsecamente inúteis mercados de carbono, que não têm qualquer fundamento econômico real e se sustentam tão somente em uma demanda artificial criada sobre uma necessidade inexistente”. Eles explicam ainda que o alarmismo “desvia as atenções das emergências e prioridades reais. Um exemplo é a indisponibilidade de sistemas de saneamento básico para mais da metade da população mundial, cujas consequências constituem, de longe, o principal problema ambiental do planeta. Outro é a falta de acesso à eletricidade, que atinge mais de 1,5 bilhão de pessoas, principalmente, na Ásia, África e América Latina”.

 Cúpula dos povos não é saída, é armadilha!

Reconhecendo que “Nestas duas décadas, a falta de ações para superar a injustiça social ambiental tem frustrado expectativas e desacreditado a ONU” (site cupuladospovos.org), um conjunto de organizações agrupadas no “comitê facilitador da sociedade civil para a Rio +20” que inclui a CUT, UNE e ONGs, todos considerados membros da gelatinosa “sociedade civil”, estão organizando a “Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental”, um evento paralelo à Rio +20, mas que organiza ações no interior da própria conferência. A “cúpula dos povos” pretende “transformar o momento da Rio+20 numa oportunidade para tratar dos graves problemas enfrentados pela humanidade e demonstrar a força política dos povos organizados.” Ela chama a “reinventar o mundo” no marco da luta “anti-capitalista, classista, antirracista, antipatriarcal e anti-homofóbica.” Tudo no mesmo patamar.

A escolha proposital de termos que evitam falar da necessidade do fim da propriedade privada dos meios de produção e da luta pelo socialismo não é casual. Corresponde à dissolução da fronteira de classes visível no próprio interior do tal “Comitê facilitador”.

Esse evento, apesar da uma linguagem radical, onde até fazem críticas à ONU, resulta numa legitimação da Rio + 20, e das instituições  que a promovem. E nem poderia ser diferente, pois tem entre seus principais patrocinadores a Caixa, banco público, cuja maioria das ações é do governo brasileiro, além da Fundação Ford. A Oxfam (rede mundial de ONGs que recebe dinheiro de instituições como o Banco Mundial) e uma fundação ligada ao Partido Verde alemão que, segundo suas próprias palavras, faz parte“ da corrente política verde que se desenvolveu em várias partes do mundo nos anos 1970 como uma resposta às tradicionais políticas socialista, liberal e conservadora.” (grifo nosso).

A participação da CUT, da UNE e de outras organizações nesse evento (MST e etc.) está em contradição com a necessidade dos trabalhadores de fortalecer suas organizações independentes para abrir uma saída à crise do capitalismo que ameaça toda a humanidade.

 Luã Cupolillo, é membro do Conselho Nacional da Juventude Revolução e militante em JF-MG

* Artigo originalmente publicado no Jornal O Trabalho n° 712

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