A resposta aos cortes do governo Bolsonaro foi dada nas ruas! Milhões de estudantes e trabalhadores saíram às ruas no dia 15/05 – Greve Nacional da educação, mandar o recado em uma só voz: “Não aos cortes!” A situação reacendeu uma discussão levantada pelos abutres que rondam o PT. Esquerdistas e defensores do governo Bolsonaro “Mas o PT também cortou da educação em seus governos”. Uma cortina de fumaça levantada para ofuscar a gigantesca mobilização do dia 15. Será que os cortes de antes são os mesmos de hoje? É verdade que não houve mobilização contra os ajustes fiscais dos governos petistas? O texto abaixo traz uma discussão que abre o caminho na enxurrada de informações que estão sendo lançadas. Confira 👇
1️⃣ Como os movimentos portaram-se em 2015? ↩️
O ajuste fiscal de 2015 foi um erro do governo Dilma – que, diante das pressões golpistas do mercado/mídia/oposição (desde o final de 2014 chantageando-a e ameaçando derruba-la), acabou capitulando. Dilma mesma reconheceu este erro em várias entrevistas pós-golpe.
O movimento sindical (boa parte dirigido por petistas e simpatizantes) foi à luta. A CUT liderou, junto com outras centrais, inúmeras manifestações de rua contra o plano Levy e seus contingenciamentos no decorrer de 2015. Nós, na Unifesp – com a participação ativa da Adunifesp e de seus diretores e apoiadores, eu inclusive – participamos de (e impulsionamos) vários atos e mobilizações. É o que se espera de sindicatos, que devem ser independentes em relação a governos, partidos etc. Nas manifestações do final de 2015, o movimento sindical/popular apresentou duas consígnias centrais: “Não ao Ajuste Levy!” e “Não ao Golpe!” (Cunha/mídia/mercados/judiciário já haviam dado os primeiros passos do impeachment, ataque brutal à democracia e, como vimos, aos direitos do povo).
Dito isso, pergunto:
2️⃣ São contingenciamentos semelhantes? 🤔
Tecnicamente, em si e descontextualizados, eles podem até ser comparáveis. Mas é muita desonestidade intelectual equiparar a política educacional de Bolsonaro (inclusive mas não só o “contingenciamento”) com a dos governos do PT – e achar que nosso movimento deve reagir às coisas por igual. No Lula-Dilma, a Educação pública teve um dos maiores incrementos orçamentários da história do país. Claro que gostaríamos que fosse bem mais, mas houve sim avanços significativos. Durante o Lula/Dilma:
💰 As verbas orçamentárias à Educação (ao MEC) mais do que triplicaram em termos reais. Lembrando que elas estavam estagnadas durante todos os anos 90, até o fim do governo FHC em 2002/3.
📈 Entre 2003 e 2016, as verbas às Universidades e Institutos Federais saltaram de 23 para mais de 60 bilhões de reais (tudo corrigido pelo IPCA de 2018), como mostra o gráfico abaixo.
🎓 Foi isso que garantiu a expressiva expansão das universidades via Reuni e Pronatec: entre 2004 a 2014, foram 360 novas escolas técnicas, 18 novas universidades federais; 173 novos campi; e o número de estudantes universitários (federais) dobrou, de meio para quase um milhão.
Aliás, como reflexão, essa expansão ajuda a explicar a enorme capilaridade das manifestações do dia 15 de maio – ocorridas em mais de 200 cidades (mesmo nos rincões) do país! Algo impensável há 15 anos atrás…
3️⃣ Dado tal contexto, é justo então tratar da mesma maneira Dilma (-Lula) e Bolsonaro? 🤔
Não só injusto, é uma enorme patifaria política que visa (mesmo que não intencionalmente, no caso da ultra-esquerda) desorientar o movimento e as lutas do povo.
⚠️
Dilma-Levy | Bolsonaro- Weintraub-Guedes |
Diminuiria a expansão do Lula-Dilma na Educação em 2015 especificamente. Mas ainda assim manteria o orçamento ao MEC num patamar incomparavelmente superior aos de todos os governos anteriores. | Corta um orçamento proporcionalmente já achatado, pois congelado (por 20 anos!) num patamar baixo pela EC95 de Temer (que os partidos de esquerda – em particular o PT, a maior bancada – votaram contra, com luta nas ruas. Bolsonaro votou a favor, óbvio). |
Ademais (e isso é central), o objetivo de Bolsonaro é destruir a universidade pública, a Educação e a própria Ciência no país, ao cortar não apenas o financiamento, mas também a autonomia e a liberdade de pensamento. O atual contingenciamento Weintraub é só uma das medidas de seu pacote geral de destruição completa, terra arrasada, dos serviços públicos sociais. Pois trata-se de um governo comprometido em destruir as conquistas que o povo e a nação brasileira lograram obter em sua história de lutas, inclusive e sobretudo as do período Lula-Dilma.
4️⃣ Igualar as coisas visa desorientar o movimento 😵
Quem acha que é tudo igual (na direita ou na ultra-esquerda), o faz por desonestidade ou por incapacidade de reconhecer tais conquistas. O povo trabalhador e os estudantes que estiveram aos milhões no dia 15 não são indiferentes a tais conquistas. E quem não defende as conquistas, recentes ou do passado, é incapaz de lutar por novas no futuro.
Por fim, quem (na ultra-esquerda em particular) insinua igualdade, ou mesmo similaridade entre coisas tão distintas, presta um desserviço à luta popular pois a desorienta e a confunde sobre onde está o inimigo. Divide o movimento, dificultando o vislumbre de uma saída política às massas. Afinal, as batalhas imediatas (“econômicas/específicas”) da Educação e da Previdência não só não são contraditórias mas são, sim, complementares às lutas (“políticas”) mais a médio prazo: pelo fim deste governo desastroso, por Lula Livre e pela reconquista dos direitos e da democracia atacados pelo golpe.