Entrevista com funcionários de call center revela descaso com trabalhadores do teleatendimento

Neste dia 21/03, em meio a pandemia do coronavírus (covid-19), o governo federal edita um decreto para incluir como atividade essencial as centrais de atendimento telefônico, os call centers. No texto diz que a interrupção desses serviços “coloca em perigo a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.”, mas na verdade é o funcionamento normal dessas empresas que colocam em perigo a sobrevivência e saúde dos trabalhadores de telemarketing.  Confira texto sobre paralisações nos call center em >>> https://juventuderevolucao.com.br/?s=call+center

Entrevistamos dois jovens que trabalham em uma das empresas de call center localizadas no Centro Histórico de Porto Alegre (que pediram para não os identificarmos por motivos de segurança) sobre as condições de trabalho no call center desde que se iniciou a pandemia do novo coronavírus (covid-19):

JRdoPT: Como estão as condições de emprego no call center desde que a o caos do coronavirus começou? Se está em Home Office, como os funcionários estão em relação ao salário e demais direitos? 

Funcionário 1: A princípio não mudou muita coisa, a empresa manteve os funcionários trabalhando da mesma forma, apenas disponibilizou álcool em gel na empresa.
Funcionário 2: Trabalhamos por volta de duas semanas e meia, desde o início do coronavírus no Brasil, durante esse período passamos por todo o processo para entender a gravidade da situação. No início apenas brincávamos com a situação, mas gradativamente o número de casos aumentavam e era diagnosticado o primeiro em Porto Alegre. Começamos a nos preocupar, afinal todas as 25 pessoas, aproximadamente, da minha operação, utilizavam algum transporte público para chegar na empresa, seja ônibus ou trem. Percebemos que ficávamos 6h em uma sala com ar condicionado, sem nenhuma medida de segurança. 
 Com relação ao salário apenas o do mês de março é garantido, os funcionários que foram demitidos tem as suas recisões (mínimas, pois estavam em contrato de experiência) garantidas.

JRdoPT:  A empresa está respeitando as medidas sanitárias e de segurança?

F1: Não, manteve 30 funcionários em uma sala trabalhando lado a lado, com janelas fechadas e ar condicionado ligado.
F2:  As únicas medida tomada foi a distribuição de álcool gel, mesmo assim, houve demora na iniciativa. Todos continuavamos próximos nas PA’s (Posto de Atendimento), aglomerados na sala, com ar condicionado e janelas fechadas.

JRdoPT: Você deve ter visto que no Brasil aconteceram diversas paralisações e manifestações para exigir melhores condições. Como ficou na sua empresa, houve alguma tentativa? Por quê?

F1: Não, apenas se tomaram medidas depois que a empresa foi denunciada para o Ministério do Trabalho.
F2: Não ocorreram mobilizações, além do fato da maioria dos funcionários não serem politizados, muitos de nós tivemos medo de represálias e demissões. O máximo que foi feito foram denúncias para a Vigilância Sanitária e Ministério do Trabalho, dos próprios operadores, referente a falta de medidas da empresa

JRdoPT: Houveram demissões? Se houveram, a demanda de trabalho ou escala aumentou também? Qual o sentimento dos trabalhadores do call center após as demissões acontecerem e as possíveis mudanças na demanda de trabalho? 

F1: Sim, houveram muitas demissões, a maioria que foi demitida estava em contrato de experiência, segundo o dono não tinha uma grande quantia de dinheiro para que eles recebessem.
F2: Em uma manhã de domingo, questionaram via WhatsApp, quais operadores possuíam computador e internet banda larga em casa, quem não possuía tinha até a parte da tarde para conseguir um. Foi feita uma lista e convocada uma reunião, na segunda-feira foi anunciado que aqueles que não possuíam computador seriam demitidos. As demissões são revoltantes por si só, mas saber que foram também devido as condições econômicas faz tudo piorar, como esperar que uma mãe compre um computador com o seu salário, quando ela tem que sustentar toda a sua família com o que ganha? Todo o processo ocorreu de forma fria, fomos direcionados às salas e assistimos nossos colegas sendo chamados para o RH, para serem desligados. Após isso, mesmo com todos emocionados e fragilizados, tiveram por volta de 3h de treinamento referente ao Home Office dos que possuíam máquina. A demanda de trabalho continua a mesma, porém distribuída de forma diferente, compensamos as horas de sábado durante a semana

JRdoPT: Como você enxerga o governo nesse momento atual? Ele tem feito algo que possa ajudar a sua categoria?

F1: Que eu saiba o governo não faz nada.
F2: O governo não tomou medidas efetivas em nenhum momento referente ao coronavírus, demonstra seu total despreparo com relação tanto na área de callcenter, quanto com relação aos trabalhadores brasileiros em geral. O presidente desobedece a própria Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde, indo contra as medidas de segurança e repudiando a quarentena, pedindo que os trabalhadores arrisquem suas vidas para manter o padrão de vida da burguesia.
“Para defender os trabalhadores de call center precisamos lutar contra o governo Bolsonaro. É dar um fim nele para preservar nossos direitos e empregos. Com essas medidas a insatisfação popular só cresce. Damos toda solidariedade aos trabalhadores do teleatendimento!”

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