Nesta segunda-feira (31), fomos surpreendidos pela morte bárbara do congolês Moïse Mugenyi, assassinado por 5 homens a pauladas. A justificativa para o injustificável foi a cobrança de seu salário atrasado.
A história de vida de Moïse aproxima-se com a história de diversas pessoas imigrantes do continente africano, que buscam aqui no país, melhores condições de vida e fuga das guerras tribais-civis.
Moïse chega ao Brasil com 11 anos de idade, em 2014. Logo depois, sua família composta pela mãe e os irmãos, também passam a residir aqui. A partir de então, Moïse passa a ser um trabalhador imigrante em solo brasileito. Mais do que isso, um homem negro congolês.
Pelos níveis altíssimos de desemprego, oriundos da péssima política econômica de Guedes e Bolsonaro, Moïse arrumou emprego no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Recebia a diária para trabalhar servindo mesas. No atraso de seu pagamento, após cobrar seu legítimo direito de receber por seu trabalho, foi morto por 5 homens que o espancaram durante 15 minutos. A família só soube de sua morte quase 12 horas depois, enquanto o quiosque funcionava normalmente.
A morte brutal de Moïse escancara a crueldade do sistema capitalista, onde um trabalhador negro é morto por cobrar seu salário. Steve Biko, militante comunista da África do sul, ao ser questionado sobre consciência negra afirma que o negro é oprimido por um mundo exterior através das instituições e pelas pesadas condições de trabalho e pelo salário baixo.
Aqui no Brasil é diferente ?
Ao dar uma entrevista ao jornal Extra, a mãe de Moïse, Ivana Lay, disse que seu filho foi morto no Brasil, assim como se mata no Congo, que está em meio a guerra. Ela está errada? Não!
Os dados mostram que o extermínio da população negra, principalmente a juventude, tem alcançado cada vez mais números altos. De 2009 a 2019, em 10 anos, tivemos mais de 623 mil assassinatos no país, onde 53% eram adolescentes. Dentre esses números, a maioria eram jovens negros/pardos. Segundo o mapa da violência de 2020, o Brasil apresentou taxas altíssimas de morte de pessoas negras. Em 2018, batemos a taxa de 75% dos assassinatos serem de pessoas negras!
O que fazer?
A situação da violência no país, que mata mais jovens pretos e mulheres pretas, representa a estrutura racista nacional. Mais do que nunca é preciso jogar essa estrutura fora e construir uma nova nação que pense também nos imigrantes que chegam ao nosso país. De 2011 a 2021 houve o aumento de 24,4% de imigrantes no Brasil. Isso mostra como a crise do capitalismo é global!
Exigimos justiça para os culpados da morte de Moïse e que esse crime não caia no esquecimento. Não normalizaremos mais uma morte de um corpo negro!
Precisamos mais do que nunca nos organizar para pôr fim nesse sistema nojento que sobrevive a custa de sangue negro. Precisamos reformular as instituições do nosso país que foram fundadas a partir da escravidão, para que sejamos realmente livres e que os responsáveis por crimes como estes possam ser punidos e não acobertados pelo nosso judiciário.
“Ser negro e relativamente consciente é estar quase sempre com raiva.”
– James Badwin.
* Questão negra: A luta pela consciência negra e combate pela revolução. São Paulo, 2019.
Analú – Militante da JR- DF.
