“Mulheres contra Bolsonaro”: a quem serve?

Há poucos dias, através das redes sociais milhares de mulheres se juntaram em um grupo de facebook “pluripartidário” com algo em comum: o repúdio ao candidato Jair Bolsonaro (PSL). Conforme descrevem as organizadoras, “a maioria dessas mulheres reunidas neste grupo fechado […] defendem que, no primeiro turno, as colegas votem em quem quiserem, menos no candidato do PSL. E, caso ele alcance o segundo turno, votem no adversário do militar, seja quem for.” (Carta Capital).

A mobilização “Mulheres contra Bolsonaro” faz uma anticampanha ao candidato, inclusive, através da #EleNão. A cada dia surgem nos estados grupos e mais grupos de mobilização que reúnem mulheres da esquerda à direita, orientando a realização de atos no próximo dia 29.

O repúdio a Bolsonaro é justo, afinal, ele é conhecido por defender que mulheres tenham menos direitos que homens e por incitar a violência como o estupro. O presidenciável tomou notoriedade durante o golpe, ao dedicar seu voto na Câmara dos Deputados, a favor do impeachment, ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ulstra, o mesmo que torturou a presidente Dilma Roussef.

Bolsonaro não é nada menos que o resultado da podridão das instituições e dos partidos inimigos do povo que, ao não conseguirem vencer nas urnas, arquitetaram o golpe para tentar atender aos interesses imperialistas, o que significa a retirada dos nossos direitos que pesou de sobremaneira sobre as costas das mulheres.

Assim, a reforma trabalhista desprotege gestantes, permitindo que trabalhem em lugares insalubres. O desemprego subiu 10,5% para homens e 13,4% para mulheres. Ainda não temos salário igual para trabalho igual. Trabalhamos 8 horas a mais do que os homens, semanalmente. Sujeita à dupla jornada, a mulher hoje é parcialmente compensada pelo direito de se aposentar mais cedo, direito que pretendem arrancar de nós com a reforma da previdência.

Em 2013, a cada dia, 13 mulheres foram vítimas de feminicídio. Em 2015, a cada 11 minutos 1 estupro foi registrado. Atualmente, a cada 7,2 segundos uma mulher é vítima de violência física. Em apenas 7,9% das cidades do país existe a Delegacia de Atendimento à Mulher. Anualmente, milhares de crianças são vítimas de estupro. Os golpistas querem, através da PEC 181, proibir o aborto mesmo em casos de estupro ou quando o feto apresenta anencefalia. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada dois dias uma mulher morre por complicações decorrentes de aborto ilegal.

No ambiente universitário, 25% das estudantes já foram assediadas por professores. O decreto no 977/1993 proibiu a construção de novas creches. As carreiras de segurança e vigilância foram extintas através do decreto no 4.547/2002, terceirizando o serviço. E por todo país a queixa é comum: falta iluminação. A situação se agrava com o brutal corte orçamentário da Emenda Constitucional 95.

Diante desse cenário, em que nós mulheres vivemos cada vez menos, sem perspectiva e vulneráveis a violência, como produto da crise que vive o país, é inadmissível termos Bolsonaro como presidente, mas não só ele, é inadmissível eleger qualquer um que seja inimigo do povo e não nos ofereça uma saída política para a situação que vivemos.

Ele não, então quem? É Haddad 13!

Negar Bolsonaro, como faz o movimento, ou seja, declarar que no primeiro turno, […] votem em quem quiserem […]. E, caso ele alcance o segundo turno, votem no adversário do militar, seja quem for” não seria o mesmo que desperdiçar as energias da militância petista? Essa energia não deveria estar concentrada em fortalecer e ampliar a campanha pelo voto 13?

Votar “em quem quiserem” não seria acreditar que Marina, Amoêdo, Alckmin podem frear os ataques e atender as nossas reivindicações? Ou mesmo Ciro que quer fazer a reforma da previdência? Sinceramente, nós não acreditamos nisso. Afinal, todos eles estavam na defesa do golpe, lado a lado com Bolsonaro! Votaram juntos contra o direito das mulheres! Nesse aspecto, está errada a orientação da Secretaria de Mulheres do PT que, além de aderir à campanha, diz que é necessário lutar contra nosso “principal inimigo”. Nada disso! Nosso principal inimigo é o golpe e as suas instituições! Bolsonaro é só um fruto deles. Ou cortamos o mal pela raiz, ou os  frutos podres continuarão a existir.

O avanço de Haddad nas pesquisas demonstra que o PT é o único governo que pode mudar os rumos porque é aquele que propõe romper com as instituições apodrecidas, através da convocação de uma Constituinte Soberana. Não à tôa, Haddad cresceu 127% entre as mulheres!

A partir disso, precisamos jogar nossas energias no combate necessário: eleger Haddad 13 para, com o programa de Lula e do PT governar o país! Para isso, em que essa tal “frente de mulheres contra Bolsonaro” ajuda? De que vale participar de algo que não podemos discutir amplamente com as mulheres qual a verdadeira saída política para realidade que ela vive para não ferir o caráter “pluripartidário” do movimento?

Seria mesmo Bolsonaro a representação do fascismo? Não seria, ainda que com algumas ideias fascistas, apenas a própria representação do que querem as instituições apodrecidas empurrar para cima do povo? Se não podemos defender o projeto no qual acreditamos, o tal “combate ao fascismo” trata-se mais de uma armadilha para desviar do combate central: derrotar o golpe, logo, eleger Haddad.

Precisamos nos organizar por nossas reivindicações e construir a disputa que está dada, é por isso que está certa a campanha do Lula-Haddad ao propor a criação de comitês “Mulheres com Lula-Haddad” para elaborar materiais de campanha para discutir amplamente, organizar atos, discussões, panfletagens etc para fazer eleger o 13 para que as mulheres trabalhadoras tenham suas conquistas!

Brenda Melo, militante da Juventude Revolução do PT em ES.
Sarah Lindalva, militante da Juventude Revolução do PT no DF.

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