O cenário do EAD e a luta dos estudantes no Rio Grande do Sul

 Devido a pandemia coronavírus, as aulas presenciais nas escolas gaúchas estão suspensas desde o dia 18 de março. Durante um grande período de tempo, não havia nenhuma orientação sobre como ou se era permitido e/ou esperado que se realizassem atividades EAD. Nesse período inicial, de duração de 3 meses, os alunos e professores já relatavam diversas dificuldades que encontraram nas atividades/aulas EAD ou aulas remotas; questões como condições de acesso e falta de suporte para os professores foram algumas delas. 

A partir do dia 1 de junho, o governador do Estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) impôs a retomada das aulas de forma remota, ou seja, aulas EAD, via plataforma do Google Classroom. Essa decisão foi tomada mesmo considerando um cenário onde 90% dos professores nunca tiveram experiências com aulas online antes da pandemia, e que metade dos 11,3 milhões de gaúchos não têm à disposição computador em casa, enquanto outros 31% não têm nem acesso à internet. 

Após um mês do início desta experiência, o resultado é de cada vez mais exclusão dos estudantes. Hoje, de acordo com levantamento feito pelo CPERS, mais de 300 mil de 800 mil estudantes da rede estadual gaúcha ainda não realizaram o primeiro acesso no Google Classroom. Isso é quase 40% dos estudantes estão sendo desconsiderados e privados do seu direito à educação. É o EAD resultando em evasão escolar e uma política de precarização do ensino público. Sabemos os motivos, como por exemplo, utilizar do EAD como instrumento para mais pra frente, poder fechar turnos de escola como ameaçou antes da pandemia, e demitir mais professores e funcionários.

O EAD como forma de continuação do ano letivo, principalmente neste momento de crise econômica, onde milhares de brasileiros enfrentam um cenário de crescente desemprego e a miséria, alguns sem ter nem que comer em casa e sem o suporte da merenda antes vinda da escola, foge do dia-a-dia da maioria dos estudantes, e os responsabiliza pela aprendizagem, diminuindo a responsabilidade do estado. Isso uma vez que este método não garante a qualidade do ensino-aprendizado, além de ampliar a desigualdade entre os alunos, desconsiderando totalmente a realidade da população mais pobre que não tem acesso a tecnologias e a internet e ignora aqueles que precisam do auxílio de um profissional da educação, como os alunos de inclusão.

As questões sociais no nosso país e estado impossibilitam o uso do EAD como forma de fazer o ano letivo. Faltam condições para acesso, para estrutura tanto para alunos, quanto para os professores, que reclamam de falta de suporte, entre outros.

Até o momento, o auxílio prometido pelo Executivo e a Assembleia Legislativa do RS para estudantes e educadores arcarem com a internet não se concretizou, muito menos a promessa de aquisição de equipamentos, ou chips com internet ilimitada para aqueles que não tem. A situação econômica nacional é agravada no RS, principalmente para os educadores gaúchos, que vivem um cenário de falta de pagamento de salário, instabilidade e demissões, e que também sofrem com a falta de suporte tanto de orientação quanto de estrutura e financeiro para poderem ministrar as aulas, muitos deles, tirando de seu bolso para tentar garantir o mínimo para seus alunos.

A política do governo de Eduardo Leite, em consonância com a política do governo de Jair Bolsonaro, trata da educação pública como algo de segundo plano e não como um direito social que deve ser tratado como tal, com todas suas complexidades e particularidades que exigem investimentos, recursos e acesso a todos. 

Nós da JRdoPT defendemos que as atividades sejam complementares nesse momento, afinal, queremos sim que nossos colegas que tenham condições possam manter sua mente em exercício, manter o vínculo com a escola, que nossos professores possam ter seus empregos garantidos, assim como seus direitos, salário e renda, uma vez que tem trabalhado dobrado para poder ajudar os estudantes. Mas somos sim contra a precarização do ensino público e contra o ano letivo EAD, uma vez que está comprovado que nem todos os estudantes conseguem cursar desta forma.  

Cobramos que o governo do RS cumpra o seu papel de garantir os direitos que deve a população. A educação EAD é uma exceção que não deve virar regra. Tampouco se pode considerar a retomada de aulas presenciais em meio à pandemia e ao risco gigantesco de exposição de estudantes, professores e funcionários à contaminação. A situação é excepcional e precisa ser reconhecida como tal. Não queremos que os nossos colegas e professores tenham suas vidas prejudicados por negligência de um governo que não se preocupa com a realidade dos milhares estudantes gaúchos. Portanto, exigimos que:

– As atividades EAD sejam de caráter complementar, existindo para a manutenção de vínculos, contanto que garantidos os meios de estrutura e acesso para os estudantes e professores que não possuírem, considerando a atual situação. 

– Que neste período, com EAD de forma complementar, sejam garantidos aos professores, que estão trabalhando constantemente para a garantia de atividades que possam alimentar o vínculo com os estudantes, a manutenção dos seus empregos e salários, assim como garantia de que eles recebam todo o tipo de suporte necessário para realizar seu trabalho.

– Que o retorno presencial das aulas só aconteça após o fim da curva de contágio do vírus, com segurança, sendo as escolas equipadas com materiais de higiene e máscaras.

Confira o e contribua com essa luta através do abaixo-assinado criado pela JRdoPT contra as aulas EAD no link: http://chng.it/zPrwDTjgDx

Participe das nossas reuniões de núcleo para organizar essa luta na sua escola e cidade! #ForaBolsonaro e todo o seu governo! EM DEFESA DO ACESSO AO ENSINO PÚBLICO, CONTRA A EVASÃO ESCOLAR: EAD SÓ SE FOR COMPLEMENTAR!

Fernanda Miranda, JRdoPT – Núcleo Feitoria (São Leopoldo RS)

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