O contrário do errado nem sempre é o certo: dialogo sobre a polêmica do Juntos!

(*) O agrupamento Juntos! (do PSOL) divulgou em seu site um longo texto de dois militantes em que acusam a JRdoPT de “adotar um discurso bolsonarista” de “negacionismo” e de “atacar um pilar chave da estratégia de imunização coletiva”, o chamado “passaporte da vacina”.

Toda pessoa que conheça a JRdoPT sabe que tais acusações não têm pé nem cabeça, mas é fato que as paixões se aceleram às vésperas de ano eleitoral, incluindo no DCE-UnB. De todo modo, há sim uma discussão importante a ser feita a respeito desses problemas para construir a unidade do movimento estudantil.

Em primeiro lugar, precisamos lembrar que a chegada da pandemia e a crise sanitária reforçaram as desigualdades no Brasil e no mundo. Todos os governos, de todas as colorações, não apenas Bolsonaro, usaram a pandemia para “passar a boiada”, atacando direitos da juventude e da classe trabalhadora, em particular a saúde e a educação. Sob o risco de contaminação, tivemos que aceitar em caráter emergencial as aulas a distância. Sem surpresa, vimos como os problemas relativos ao acesso de computadores, internet, local adequado para estudos, – além da óbvia perda de comunicação – nessa modalidade, impossibilitam um ensino de qualidade. Milhões de estudantes, tiveram assim negado o seu direito à educação pública e gratuita.

            Enquanto isso, a política de partidos, centrais sindicais, da UNE e diversas organizações era o “fique em casa” que dificultou uma resistência mais séria aos ataques de Bolsonaro, desarmando vários jovens que queriam o fim do governo. Não esquecemos que ao lado do “fique em casa” havia a proposta de “comitê de emergência” da pandemia, com Bolsonaro e tudo!

Diante dessa realidade, que posição adotar?

A JRdoPT, desde o início, lutou para que o ensino remoto fosse considerado transitório e pudesse ser superado o mais rapidamente possível. Para isso nossa proposta, desde sempre, foi a unidade para exigir – além de vacina para todos pelo SUS – medidas necessárias para a volta às aulas presenciais com segurança: Fornecimento de álcool e EPIs; testagem em massa para que o contágio seja mapeado; aumento das frotas de ônibus, dentre outras. Essa orientação permitiria unificar a luta dos estudantes em reivindicações precisas e concretas, cobrando a responsabilidade daqueles que têm a obrigação de garantir ensino de qualidade: os governos federal e distrital!

Em vez de lutar para exigir providências dos governos, a defesa de punições e a “luta” contra quem não se vacinou divide os estudantes e os trabalhadores e coloca nestes a culpa pelas consequências da pandemia. Essa é a política de governos imperialistas dos Estados Unidos e da França, além de vários governos estaduais no Brasil. Seria muito fácil rebater a acusação de “discurso bolsonarista”, dizendo que os companheiros do Juntos estão juntos com… Biden, Macron, Dória, Pedro Sanchez e a social-democracia em geral. Poderíamos dizer que, para negar o bolsonarismo, os companheiros passam longe de uma posição independente, de classe, e simplesmente vão a reboque do “consenso” difundido pelos meios de comunicação. Bolsonaro foi eleito presidente pelo lavajatismo alardeado pelos meios de comunicação que, em seu tempo, perseguiu o PT e queria resumir o problema do Brasil à “corrupção de Lula”, jamais provada, mas que serviu para o golpe de 2016 e a farsa de 2018.

Defendemos campanhas de conscientização e, sim, somos contra a “obrigação vacinal” que permite legalmente a demissão de trabalhadores por justa causa! O Tribunal Regional de São Paulo já homologou a demissão de uma auxiliar de limpeza por essa razão! Seria análogo o impedimento de matrícula a um estudante não-vacinado. Mas ao contrário do que disse o Juntos em seu site, a JRdoPT defende a eficácia das vacinas pois trata-se de evidência científica. Não é a única evidência. A vacina protege amplamente contra casos graves da doença, mas não impede que a pessoa seja contaminada pelo vírus e contamine ao seu redor mesmo sem apresentar sintomas! Medidas sanitárias como a testagem em massa, o distanciamento social e uso de EPIs são imprescindíveis para a garantia da segurança dos espaços. Por isso, o Juntos erra quando afirma no texto que “apenas quando todos estivermos vacinados, estaremos todos protegidos”. Não basta apenas isso!

Daí que levantar o “passaporte da vacina” como solução para combater a pandemia é um erro! Para milhões de pessoas lançadas na miséria – principalmente o povo negro e as mulheres, vários estudantes da UnB – simplesmente não existiu a mínima possibilidade de fazer isolamento social. Eles foram os mais atingidos pela contaminação.

A resposta é condenar ou organizar a luta por direitos?

O coletivo Juntos! usa de uma falsa polêmica entre “Direito Individual e Política de Saúde”, desconsiderando que uma parcela importante da população não se vacinou, ou teve dificuldade no acesso, justamente por falta de uma política nacional de vacinação. Classificar todos que não se vacinaram no bojo do negacionismo é não compreender o momento que o país vive, onde a desinformação e o próprio governo trabalham para confundir a população. O ensino remoto, por si só, já dificulta o acesso à educação, a vacina tem que ser uma aliada na volta do ensino presencial e não um obstáculo.

O ensino remoto vem sendo um dos motivos de abandono da universidade e de adoecimento mental dos alunos. Pesquisa realizada pelo DCE aponta que 80% dos estudantes se mostram favoráveis a um retorno presencial. Nessas condições a verdadeira polêmica é: “brigar” com o percentual de estudantes que ainda não se vacinaram dividindo nossas forças ou nos unificarmos em torno de reivindicações concretas como o direito à vacinação pelo SUS e a adequação dos espaços que frequentamos, contra os sucessivos cortes orçamentários, que ameaçam a nossa permanência.

Companheiros e companheiras: Já passou da hora de voltarmos a ocupar o nosso espaço! O modelo de ensino remoto é excludente, demonstra a desigualdade e impede o acesso a um ensino de qualidade. Nesse sentido, a volta ao ensino presencial é necessária para todos os estudantes! O contrário de negacionismo não é dividir os estudantes em vacinados versus não-vacinados. É organizar a luta unitária para que os governos tomem as medidas necessárias para que possamos estudar com qualidade e segurança!


Coordenação Distrital da JR do PT 

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