Publicamos abaixo um artigo escrito pelo professor e ex-militante da Juventude Revolução, Alexandre Linares. O texto foi retirado do jornal O Trabalho, edicação de nº 900, que ouviu estudantes de São Paulo e Minas Gerais sobre a realidade nas escolas. Optamos por publicar também dois boxes que seguem o texto no jornal.
O retorno efetivo às aulas presenciais neste ano tinha sabor de esperança. Kesia, 17 anos, estudante do 1º ano do Ensino Médio em São Bento do Sapucaí (MG) explicou: “No começo do ano letivo os professores, assim como os alunos estavam esperançosos por voltar depois de 2 anos de pandemia. (…) diziam que nesse novo Ensino Médio os alunos participariam mais do ensino, auxiliando a elaborar tópicos que achassem importante serem apresentados, o que logo se mostrou não ser verdade.”
A estudante, que desistiu das aulas a distância durante a pandemia e optou em reiniciar os estudos para aprender, deixou claro seu sentimento sobre a precarização das condições dos professores: “O novo Ensino Médio não trouxe professores mais preparados como prometeu, na verdade muitos não sabem lidar com os alunos”.
Em São Paulo, os chamados “itinerários formativos”, reduzem as aulas dos conteúdos educacionais. Para Lucas, 16 anos, do 1º ano do Ensino Médio na capital paulista essas novas matérias “não servem pra nada. Só pra encher linguiça lá na escola.” Já para a estudante Lyandra, 16 anos, do 2° ano do ensino médio, essas aulas “retiram horário de matérias importantes. Fazem com que nós tenhamos menos tempo para aprender matemática, por exemplo.”
Na periferia de São Paulo o presidente de um grêmio estudantil, relatou: “Os alunos das turmas do novo Ensino Médio estão reclamando muito. É como o que está rolando no Paraná. Se falta professor, colocam aulas na TV para assistirmos”.
Queremos aulas de educação física
As aulas de educação física ficaram opcionais. Isso está revoltando os estudantes. Lucas explicou sem meias palavras: “eu também achei uma bosta, né. Por que tirar o que a gente mais gosta da escola e colocar EAD?”. Uma estudante de uma escola de São Paulo que pediu para não ser identificada disse “É muito injusto. É a aula que temos para nos movimentarmos, para lidarmos com nosso corpo e com nossa saúde”.
A escola piorou
“Com todas essas mudanças está tudo uma bagunça”, disse uma estudante. Para ela “as pessoas acabam prejudicadas. Não só alunos, professores também. Muitos perderam o emprego porque ficaram sem aula e os alunos que têm dificuldade em certas matérias não têm tempo para tirar as dúvidas.”
Filas pela merenda
Falando sobre a situação social dos alunos Késia explicou sobre as filas para a merenda na escola: “esse é o maior problema que nós enfrentamos. Na minha escola são 300 alunos almoçando no período da manhã. Nós temos 15 minutos para almoçar, ir ao banheiro, e ainda socializar”. Tanto Lucas quanto Lyandra observaram que há muitas filas da merenda. Lyandra completa “antigamente não tinha tanta gente nas filas”.
Alexandre Linares
Estudantes do Paraná protestam contra teleaulas
Nas últimas semanas estudantes do Ensino Técnico paranaense se manifestaram contra a introdução de “teleaulas presenciais” nasdisciplinas profissionalizantes. Com o novo Ensino Médio abrindo brecha para o Ensino a Distância em parte da carga horária curricular, estudantes de mais de 26 escolas já realizaram protestos divulgados nas redes sociais. Eles denunciam: “televisão eu assisto em casa”, e exigem “queremos professores em sala de aula. O governador Ratinho Jr (PSD) fez convênio com a Uniceumar, uma universidade privada. Sem tirar dúvidas e sem aprendizado, os alunos estão abandonando as aulas em meios aos protestos.
Em debate projeto de lei que regulamenta a educação domiciliar no país
PL 2401/2019 visa implantar legislação que autoriza o chamado “Homeschooling” em todo Brasil. Na prática permite que responsáveis de alunos tirem as crianças das escolas e passem a avaliar estudantes diretamente através de uma plataforma do MEC. Trata-se de um projeto contra a escola pública, permitindo a exclusão dos estudantes da educação escolar. O PL altera o código penal e põe fim ao “crime de abandono intelectual”, que é aquele quando o responsável da criança não garante a presença dela na escola. Deputados do PT e do Psol questionaram o projeto. Para a deputada federal Professora Rosa Neide (PT-MG) “a educação é dever do Estado”. O deputado federal Rui Falcão (PT-SP) declarou “Nós vamos promover um liberou geral, o conselho tutelar vai ter que ir de casa em casa para saber se a criança que não está indo à escola, ou não está tendo acesso”..