UnB cria Comissão da Verdade

Universidade de Brasília vai apurar violência durante a ditadura

No último dia 10 de agosto foi feita a cerimônia da lançamento da Comissão da Verdade da UnB no auditório da reitoria. A comissão foi formada por pressão do Comitê da Verdade, que tem colocado a necessidade de apurar os fatos ocorridos na universidade na época do regime militar (1964-1985). A Universidade de Brasília talvez tenha sido uma das universidades com maior intervenção pela ditadura militar. A Comissão da Verdade deve se dedicar a levantar os fatos para, assim, abrir caminho para punir tanto os militares, como os civis praticaram todo tipo de crimes: tortura, assassinato e outra medidas  autoritárias como demissões, expulsões, invasões e perseguições políticas contra estudantes, professores e funcionários.

Foram feitos depoimentos relatando fatos ocorridos na universidade no período da ditadura militar e inclusive sobre a morte de um dos criadores da Universidade de Brasília Anísio Teixeira, que pode ter sido mais um assassinato no regime militar.

A Comissão da Verdade da UnB (DF), proposta por professores e alunos de História e Direito, com respaldo do Reitor José Geraldo, iniciará seus trabalhos com o objetivo de esclarecer episódios de violência contra a universidade durante a ditadura militar. Um dos principais focos é esclarecer o que houve com Honestino Guimarães, Ieda Delgado e Paulo de Tarso. Os três eram dirigentes estudantis: o primeiro foi presidente da UNE, a segunda foi delegada ao Congresso da UNE em Ibiúna e o último foi presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília.

A UnB sofreu uma série ações da ditadura. Em 1965, três professores foram demitidos por perseguição política. Como resposta, professores organizaram greve, com a adesão dos estudantes. Foram demitidos 15 professores, acusados de ”responsáveis pelo ambiente de perturbação”. Como protesto 223, entre os 305 professores da Universidade, pediram demissão. Até 1966, 80% dos professores haviam sido demitidos. Os docentes tinham duas alternativas: aceitar a intervenção do regime militar ou sair.

A invasão mais violenta aconteceu em 1968. Os alunos protestavam contra o assassinato do estudante secundarista Edson Luis, por policiais militares no Rio. Cerca de três mil alunos reuniram-se perto da Faculdade de Educação e da quadra de basquete. Foi o estopim para a prisão de sete universitários, dentre eles Honestino Guimarães. Agentes da polícia, do DOPS e do exército invadiram a UnB e detiveram mais de 500 pessoas na quadra de basquete. Ao todo, 60 delas acabaram presas.

Honestino foi visto pela última vez em outubro de 1973, após ser descoberto no Rio por homens do Centro de Informação da Marinha. Seu sobrinho Mateus Guimarães diz: “a nossa família acredita que ele deve ter sido levado de avião para o alto-mar, furaram a barriga, para não boiar, e depois o jogaram no mar. Essa era a marca dos agentes da Marinha”.

O núcleo da Juventude Revolução (JR) da UnB realizou um cine-debate com a exibição do filme “Barra 68”, onde professores das Faculdades Arquitetura e Urbanismo e História da UnB relataram os acontecimentos durante a invasão do campus universitário. A JR acompanha a Comissão da Verdade da UnB e desde já exige a punição dos responsáveis pelos crimes cometidos contra  professores e estudantes.

Marcius Siddartha, é militante da JR em Brasilia-DF

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